sexta-feira, dezembro 28, 2007

la famba bicha 20 - pha karingana 2

1- Ainda nesta senda de debate e observações sobre a moçambicanidade e seus contornos no imaginário do moçambicano, convido os leitores do chapa100 a deliciarem-se deste texto retirado neste blogue.

2- A primazia do indivíduo sobrevive na construção do “outro”, na busca de lugares comuns, usando os estímulos do emocional ou do cognitivo. No último post falávamos da competência, da sua importância, para lidar-mos com o diálogo do mundo social. A maioria das competências por nos usadas resultam da convivência social num espaço cultural determinado.
O espaço cultural foi e é sempre polémico. As fronteiras da cultura delimitam os espaços de negociação da nossa visão do mundo, as vezes com mais intensidade ditadora, outras com mais diálogo democrático. Como enquandrar o exercício de desabafar no espaço cultural moçambicano? Existe uma condição cultural para o desabafo?

Existem aqui questões culturais, relacionadas com o ritual do uso da língua e a cultura acústica que acompanha nosso pensamento dialogante, que podem permitir formular melhor as perguntas acima referenciadas.
Li já faz muito tempo um ensaio de Barthes “ The rethoric of the image” (1984) que foi uma grande contribuição para o estudo da significacao da imagem fotográfica na construção do “outro”. Barthes estuda no seu ensaio os processos internos de significação e trás várias questões em relação ao diálogo entre o nível denotativo e nível conotativo. O desabafo não sendo uma imagem fotográfica, como nos sabemos, não deixa de sofrer a mesma influência denotativa ou conotativa por parte de quem presencia um desabafo.
A busca do nível denotativo no desabafo seria procurar a sua razão e função objectiva, analisando os elementos básicos que o definem como desabafo. Entao que razoes objectivas sao essas que podemos identificar fora do ritual da lingua e da cultura acustica, que permitem determinar qual dos desabafos é bom ou mau.


terça-feira, dezembro 25, 2007

homenagem a Cuvilas

Este Dezembro. Morreu baleado o coreógrafo, bailarino e professor Augusto Cuvilas. Foi morto por uma bala, vinda de um policia. Cuvilas pediu socorro, e foi socorrido roubando-lhe a vida. Digo roubando, porque esta morte representa para muitos que conviveram com Cuvilas um roubo, igual a muitos que temos sofridos nesta cidade de Maputo. Escrevi num dos post como rouba-se a vida em Maputo.
Conheci Cuvilas como um jovem de bom gosto, estas coisas discutíveis na vida, mas na arte muito apeticiveis. Maputo tem esta magia de ser uma aldeia para jovens amantes e fazedores da arte, todos inspiramo-nos debaixo do mesmo sol, da mesma acácia, do mesmo bocado de conversa e de acontecimentos artisticos que acontecem no dia-dia. Cuvilas estava sempre onde aconteciam coisas boas, a sua presenca servia de um enunciado de uma noite maravilhosa, artisticamente trabalhada, original no sentido de que emprestava de nos um singular soneto de sentidos numa multidão de olhares e movimentos. Assim, aprendi com Cuvilas a respeitar as pequenas catedrais de arte, onde religiosamento falavamos deste ego que acompanha os artistas. Um ego que tem de igual uma barriga de cegonha, cheia de fantasia, e de uma realidade que so pertencia a cada um de nos, os artistas. Nessas pequenas catedrais, aprendemos a trabalhar nossa inspiração na musica, na escrita, na dança, na pintura, na escultura, no cinema. E Cuvilas escutava mais do que falava, era esse o seu sentido de observar, para ele interessava a nossa mímica, nossos gestos intermitentes, voadores, para expressar nossa fala.
Por isso, tristemente, recordo-me dos seus espectáculos, da invulgar forma de invadir nossa realidade, com movimentos tão seguros de ritmos e pureza, da sua rasta musculosa como os braços que contornam a sombra da luz. A intensidade com que trabalhava a dança africana, mostrando a indiscutível beleza que nossas danças tem para falar do mundo. Assim conheci Cuvilas. Deixou-nos com uma quantidade de coisas para catalogar, escrever e fazer dos palcos o mundo dos vivos.

Cuvilas, vai com paz e poderemos talvez se uma bala deixar, continuar aqui nas pequenas catedrais que tu bem deixaste.

Veja nos próximos post do blogue mãos de moçambique, uma homenagem a vida e obra deste jovem bailarino e coreografo.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

La famba bicha 19 - pha karingana 1

O contacto social requer competências, alguns chamam de habilidades sociais. Vezes ha que confundimos essa competência como um dom, uma característica de génios. Numa definição patológica, uma pessoa é normal quando consegue iniciar um contacto e terminar-lo, comunicar, dialogar, exigir, pedir ajuda, oferecer ajuda, procurar trabalho, iniciar relacoes, iniciar uma família, cuidar e educar crianças/filhos. Todas estas características do homem normal requerem competências que nao sao adquiridas de forma automática, aprendemos sobre elas imitando os vários modelos sociais que connosco interagem na vida de criança e adolescência. Quando adulto, assumindo vários papeis sociais, descobrimos que muita destas competências que nos fazem individuos normais nao estão presentes em nos. descobrimos que somos deficitários, incompletos ou mesmo ausentes.O deficit destas competências influencia a nossa relação com o mundo social. E como adultos procuramos remediar ou adicionar o que falta das nossas competências. Por isso a sociedade "inteligente" inventou e proporciona vários cursos especializados de aumento e aprendizagem de competências sociais, biológicas e económicas deficitárias.

A questão que colocamos, na vivência do mundo adulto, relaciona-se com a nossa competência para dizer certas coisas, transformar coisas "intimas" em publicas. E ai a questão coloca-se: como comunicar o nosso pensamento, o seu sentido humano, a nossa fala pessoal em um pensamento dialogante, capaz de expressar e comunicar sobre "outros" e sobre as "coisas" numa esfera publica como a nossa. E porque que algum pensamento dialogante pode ser uma critica social e outro "pensamento" um desabafo? que competências a nossa sociedade oferece para que produzamos diálogos fora do senso comum? E este exercício de dialogar deve resultar num eclipse da razão? E como identificamos verdades simples, sera so verdade que constroi-se no processo dialogante?

Com esta pequena reflexão nao pretendo negar a existência de outros espaços “avançados” onde certas verdades e competências argumentativas sao produzidas e rotuladas. O que intrigou a minha reflexão foi o exercício rápido como alguns círculos aceitaram a critica feita ao álbum e as letras do azagaia como um desabafo. Durante a adolescência o desabafo foi aprendido como um exercício de libertação espiritual e físico. Estava ausente qualquer teoria de ciência terapêutica ou psicoanalitica que sustentasse o recurso ao desabafo para libertar-se de algo. O desabafo podia ser um exercício de demonstração de competências argumentativas ruidosas, como também servia para mostrar uma socialização de competências sociais para aliviar ou libertar "magoas" sociais. O exercício de desabafar na sua maioria, estava ligado a um ritual bem interiorizado de libertação de sentimentos negativos, intermitentes ou bloqueadores da realização espiritual ou material.

E neste exercício foram criadas varias categorizacoes do desabafo, o desabafo bom e ou o desabafo mau. Os critérios para esta categorização nao foram escolhidos dentro de um pensamento terapêutico, ou de realização individual. Aqui nao interessava a libertação do individuo, mas os espaços e as pessoas atingidas pelo desabafo. Esta categorização surgiu nao como um exercício neutro de categorização subjectiva, mas como uma expansão dos mecanismos de controle social, incluindo seus rituais e instituicoes, para espaços ate então considerados íntimos, individuais. Esta categorização também vem legitimar a entrada deste exercício individual de desabafar para espaços públicos.
Como mencionado anteriormente, a maneira como lidamos com as coisas do fórum individual e publico, mostra o nível de competências que temos. A competência realiza-se na maneira como armamos o espaço cognitivo e emocional do individuo. O desabafo, nao escapa a influencia destes dois espaços. Então o desabafo, nao resulta de espaços neutros, ele responde a chamamentos emocionais ou cognitivos. O próximo post talvez, reflectiremos sobre os espaços emocionais, que temos na nossa esfera publica. Uma relação humorística e picante caracteriza a maneira como descrevemos “o produto dialogante” resultante do casamento entre o espaço cognitivo e espaço emocional. Assistimos a expressoes do "quotidiano dialogante", tais como: este individuo espalha-se muito, nao diz coisas com coisas, falou bem mais saiu da estrada, pela boca morre o peixe, etc.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

a vida sem mais 1

ouripota, vera gomane e patricio langa (o silencio que fala)
Um país conhece-se na imaginação que temos dele. A sua geografia é explorada no passeio longo que nossa curiosidade experimenta, no diálogo com os livros, lugares, noticias, contos e alguns desencontros humanos. Estes passeios são tão profundos como o primeiro passeio com uma mulher. Somos estrangeiros da nossa própria vida. E não é a beldade que nos inquieta mas a desorganizada manifestação que nossos sentidos tomam. A bússola que desconhece o bocadinho que já é amor.
Na imaginação do país perfeito, longínquo e curioso, fui na geografia do meu chamanculo criando países de sonho. Não havia outra sonda mais íntima que a enciclopédia e a página internacional do jornal Noticias e da revista tempo para aperfeiçoar o conhecimento destes desconhecidos lugares, noticiados como países. Assim como no amor, não amei-os com a mesma intensidade que caracterizam os lugares-mulheres do sonho. Os países inesperadamente foram criando alianças e jogos de curiosidade, numa altura onde a minha percepção do mundo, girava a volta do mercado de Xipamanine.
Não havia outro armazém de sonhos tão perfeito como o sinfónico mercado, com suas bancas historicamente desorganizadas pelo preço do repolho e do carapau. Eram tempos bons, pelo menos as classes sociais estavam no diálogo constante na construção de homem novo: ou carapau ou repolho ou nada. O orgulho do homem novo estava nessa sinfónica forma, de inventar novos sabores repolhados se não carapawados.
E neste namoro com leituras sobre os outros, descobri quatro países. Assim eram denominados, países. E não lugares ou bairro, como o meu chamanculo. Como na história a descoberta é descrita com ideias de cisne romântico, onde os lugares descobertos só existem porque alguém devolveu-lhes acções performativas para ser mundo. Por isso neguei a ideia de países sem lugares ou bairros. Que países eram esses, que a sua vida não se perscruta no buraco de madeirazinco, no fazer amor ruidoso no bocadinho da noite, na inocente vida de cantar quase nu na lua esbelta, na conversa de símbolo metafórico das mulheres na fontenária, no miliciano organizador de curiosidade no círculo do bairro para ver a televisão do primeiro mundo, nos passos nocturnos do amante esquecido, no exército de crianças que correm como um rio perseguidas por uma bola de trapos. Que paises eram esses, noticiados sem lugares biblicos. Perguntava a bussola mente, curiosa.
E porque não há noticias de um pais com lugares fortuna como chamanculo. Resolvi, influenciado por diálogos e recortes de jornais, escolher a Tanzânia, a Rússia, o Kenya e Portugal, para fazedores do mundo estranho e estrangeiro. Quando surgia uma notícia destes países, os lugares construíam-se desgarradamente como anexos de um Chamanculo que multiplicava-se no pêndulo que beliscava nossas escolhas caseiras entre o repolho ou carapau.
A cada Jornal atirado na rua, renascia a construção da narrativa descoberta. Não eram só as palavras que continham significados, ou as fotos repetidas que acompanham pequenas notícias sobre estes escolhidos países. Existia como em qualquer outra narrativa, um narrador. Homem, como as personagens que falam destes lugares. Tão masculino, o narrador, que tudo era uma narração ancorada no pensamento plástico, de reciclar minha curiosidade. Na minha caminhada, com silenciosos olhos, perseguia a cada trapo de jornal, como quem persegue o ultimo voo de uma pomba desmamada. Assim aprendi a cumplicidade do vento, neguei enfrentar sua destreza, memorizando a hora do seu repouso ou da sua ira. A minha sorte esta no vento e não no narrador jornalista que não percebe que a cada noticia dos escolhidos países, chamanculo multiplicava-se. Muitos anos passaram, o vento enamorou-se. Não mais soprou sua ira. Troquei a corrida por uma caminhada mais cintilante, de um namorado desprevenido. Porque já conhecia cada canto dos caminhos magros, resolvi perseguir os vestígios da minha passagem pelos caminhos apressados de chamanculo. Já não eram os pequenos sinais de uma passagem apressada que questionavam a minha colecção de lugares, destes estrangeiros países, mas como estes países e suas gentes viajaram dentro mim, nos caminhos multiplicados pelo vento. A velhice tinha chegado, coleccionada em cada recorte pregado na parede do quarto. As rugas eram o sinal de um livro polémico. Existe um chamanculo nestes países, mal retratado na fotografia repetitiva, de uma notícia incompleta sobre os lugares de madeirazinco. O livro na velhice não produz lugares. o editor comentou, na recusa de publica-lo. Não era a velhice que importava nos lugares por mim explorados. Mas a culpa de deus, por ter criado lugares distantes sem pelo menos explica-los da sua origem chamanculiana. Estes países são o rastilho de um zinco, quebrado e levado para longe, para construir outros sabores menos repolhados e carapawados. O velho disse e morreu. E morri.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

os habitantes da cidade 2

Ia Basta – retractos do sonho!

A nhamundwa mathe

O que se pode pintar no rosto de um homem? A vida.
Quando não mais podemos chorar, falar, sorrir, resta-nos o que no homem sempre habitou, a arte, o pedaço que não foge ao olhar e ao silêncio.

A pintura empresta ao homem a palavra muda mas certa para dizer Já Basta., porque “a arte é eternamente livre” escreveu kandinsky.
Já Basta! mostra que a pintura deve ser livre, servir os homens. Retractar a exuberância da alegria, da miséria. da tristeza , da beleza, dos números, do sonho.
Mas é no sonho que reside esta pintura. No sonho do rosto que deve-se retractar, emprestar-se às fantasias do real, e medir na tela a liberdade do mundo.
A cada traço percorre-se o limite do interior , a sensoriedade do dialogo entre o sonho e o real. E ai reside o homem do rosto, que lhe faltam olhos para contemplar-se a si próprio.
Muitas vezes negamos a liberdade da pintura, talvez porque ela se retracta com retratos, e não com rostos. Nhamundwa, perscruta a vontade da liberdade, que ‘e mais que um retracto, onde o sonho se exorciza e Nhamundwa excede-lhe o sentido.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

la famba bicha 17

Primeiro desculpar-me pela prolongada ausencia no blog, o trabalho de campo rouba muito tempo. E continuo em trabalho de campo. Prontos, acho que comecei com manias de desculpas, aprendi do pais. Neste exercicio trabalho de campo, somos muitas vezes surpreendidos a reflectir sobre os pontos adiados no debate do blog. Um desses pontos tem haver com o discurso identitario, estetico, e sociologico sobre as manifestacoes musicais - nao digo culturais porque preciso reflectir.
Este discurso obriga-nos a reflectir sobre os espacos de negociacao de identidade ou da estetica. A identidade e a estetica tem uma relacao de producao de cultura, resultado de espacos nao neutros de socializacao e suas instituicoes. A critica social e o desabafo resulta desta aprendizagem nao neutra de interagir com a identidade e a estetica.
esta pequena introducao vem a proposito de uma pequena reflexao que pretendo fazer sobre a exigencia da critica social versus desabafo, onde o desabafo nao é um exercicio menos consciente na relacao que temos com a identidade e a estetica nas nossas relacoes com o mundo social e politico.

domingo, novembro 25, 2007

tio patinhas e o umbigo 3

Existe arte que legitima-se fora da interacao social entre o artista e a sociedade?
O sociologo e blogista Elisio Macamo comenta no post do chapa100 com o titulo tio patinhos e o umbigo 2. E Porque sou de opiniao que este comentario, abaixo transcrito, tem a forca de revisitar as nossas certezas e especificar os nossos argumentos, faco o comentario em destaque para os passivos leitores e activos blogistas. Tentarei com mais vagar responder as perguntas dirigidas ao chapa100.
"caro chapa100, excelente texto o teu! penso que apresentas muito bem o lugar da produção artística juvenil no nosso país. não sei se concordaria contigo se utilizasses esta apresentação para contrariar os que criticam as letras da música de azagaia. como sabes, sou um deles. em tempos tentei fazer uma distinção entre desabafo e crítica social (que tu consideraste simplista sem mais elaboração) para dizer que da mesma forma que o artista precisa do seu espaço de criatividade nós os da sociologia precisamos também de manter a substância analítica dos nossos conceitos. eu estava a reagir à ideia de que o que ele canta é "crítica social". não me parece e disse porquê. continuo a pensar que é um desabafo extremamente contraproducente. mas concordo contigo que é produção artística. mas tu, de certeza, não podes estar a dizer que a produção artística nos deva deixar indiferentes. não seria isso o contrário do que tu próprio pensas ser o papel da arte? tu não podes estar a querer dizer que devemos ignorar o artista porque é artista. da mesma forma que ele pode produzir artisticamente nós também podemos interpelar essa produção. criticar é também estética, revela a nossa capacidade de sermos impressionados pela produção artística.não percebo o que tu dizes sobre o facto de serem muitas as pessoas que consomem a sua música. o que queres dizer, exactamente? que se for cada vez maior o número de pessoas que o consumirem, ele não pode estar enganado? que era preferível que fosse ignorado? abraços". Eliso Macamo

quinta-feira, novembro 22, 2007

acorda-se tarde ou o sonho atrasa?

Durante a infancia, fui dancando ao ritmo da timbila e da marimba no patio do ex-conselho executivo, no bairro de Xipamanine. Depois veio o inesperado itinerario, Baza baza e Mutxeca encheram minha adolescencia de mestria na arte de dancar e perder sentidos. Ali no espaco do Bazuca e no famoso campo do SMAE. Em seguida, a curiosidade tomou conta de mim, nos bancos do cinema Olimpia e campo kape kape, para estudar os sentidos colectivos de um chamanculo que era meu mundo, descobri nestes lugares o mestre Salimo, Ghorwane, grupo RM, Wazimbo, Nova Dimensao, Alexandre Langa, Fany Fumo, Lisboa Matavel, e outros habitantes da memoria chamanculiana. E assim os meus sentidos nunca mais pararam, descobri o dramaturgo Lino Lhongo no Bairro do aeroporto - anda ai uma publicidade, da CNCD, que anuncia um decano das artes cenicas em mocambique, nao sei qual foi o criterio para esse titulo - , Ungulani Baka khosa na marisqueira do Alto Mae e os desenhos do Idasse na revista tempo. A literatura tomou conta dos sentidos, comandou a descoberta do mundo urbano.
Todo este rabisco resulta do meu contentamento. Afinal, parece que comecou o exercicio de pensar estruturalmente na cultura. é so um comeco, mas pode valer no exercicio de produzir sentidos mais apurados da nossa relacao com a cultura e seus produtores. depois de ver a Casa Velha a cair aos bocados, distritos e cidades sem casa ou espaco cultural (ex.Xai XAi ), o ARPAC sem fundos, os museus a cairem aos bocados, pouco tempo de antena para o programa Cena Aberta, e a eliminacao do cafe cultural na radio cidade, o anunciado instituto superior de artes e cultura, tras uma alegria para muitos como eu, porque julgamos que o pais tambem merece academias mario colunas das artes e cultura.

sábado, novembro 17, 2007

Os habitantes da cidade 1



"Sou como Prince. Adoro música e mulheres. Ah, mulheres, mulheres. Se ao menos eu tivesse uma... Minha pontuação com mulheres é muito parecida com a minha conta bancária: ridícula. Na minha idade já devia ter brincado o há p’ra se brincar, ter pontuado o há p’ra se pontuar, devia planear me casar mas...". Leia e veja esta incursao critica da cultura jovem em maputo na redacao do kanino com o seu blog.


quinta-feira, novembro 15, 2007

tio patinhas e o umbigo 2

A musica e o album do azagaia esta provocando um debate aceso nos varios  círculos de interesse em moçambique. E nao é para menos, afinal azagaia nao é só objecto de adorno ou símbolo de luta, representa as varias tonalidades que caracterizam a nossa esfera publica. o mukherismo no debate.
Não há coisa mais polémica do que a relação que temos com a arte e o poder politico, com a expressao artistica e as instituicoes de control social, e ou a relação exuberante entre a arte e o poder politico. Quando estudamos a historia da arte moçambicana (desde o conto oral ate a musica contemporanea) onde enquadramos a interpretação da arte a realidade social, politica e económica em vários momentos ou períodos históricos. O periodo pré-colonial, colonial, movimentos de contestação a ocupação colonial e guerra de libertação nacional, pré-independência, pós-independência, o período da guerra civil, pós-revisão constitucional de 1990, e período pós-primeira eleicoes democráticas encontramos reacoes e dinâmicas sociais diferentes na maneira como interpretamos a arte como elemento mais atento na discrição e polemizacao das relacoes sociais na sociedade moçambicana.
Sempre questionamos a representatividade de certo objecto artístico ou expressao artistica quando estudamos relacoes sociais numa sociedade. Por isso o debate sobre o azagaia. Ate que ponto a arte do azagaia representa a realidade social que vivemos? Como é constituída a verdade na nossa sociedade? De que sociedade estamos a falar? E como podemos transferir e representar a verdade no espaço artístico? Existe uma arte que legitima-se fora da interacao social entre o artista e a sociedade? Existe uma separacao na interpretacao da expressao "mentiras de verdade" com funcao instrumental ou como expressao artistica?.

O tratamento inconsistente que damos ao registo ou papel da arte na representação das relacoes sociais resulta neste inconsistente debate sobre a representatividade dos nossos numerosos autores habitualmente conhecidos como representativos da arte Moçambicana. Uma outra questão é o valor potencial da arte pós-independencia no estudo contemporâneo da sociedade Moçambicana.

O debate que muitos tem conduzido sobre as novas tendências da musica moçambicana, especialmente produzida por jovens, é resultado desta interacao que a musica tem na interpretação de sentidos nos vários actores sociais na sociedade moçambicana. A critica, que tem sido dirigida a estes jovens músicos, caracteriza-os como uma geração de vendidos, sem valores ou identidade colectivamente aceitável. Na verdade é uma critica escondida num discurso de identidade e de moralização da sociedade. Mas o que caracteriza a musica destes jovens nao é perca da moral ou dos valores de identidade, mas o excentrismo estético e a descoberta da retórica como poder, particularmente a desconstrução do discurso do poder politico e das instituicoes de control social na sociedade.
Estas novas tendências musicais da musica jovem moçambicana, que a partir dos anos 90 desperta para muitos analistas sociais, é acompanhado de um dinamismo social que permite maior expressão a iniciativas individuais, e pluralidade dos espaços de afirmação e realização. O aumento desta escolhas é acompanhado de varias mudanças sociais que transforma muitos mocambicanos, em particular jovens, em combatentes de uma sociedade carente de realizacoes e espaços de negociação. O combatente da verdade, que caracteriza a arte dos jovens moçambicanos assenta numa irónica expressão artística, numa sátira social, a caricatura do dia-dia.

Assim como muitos artistas moçambicanos ,durante a nossa historia, estes jovens fazem na sua actividade de produzir arte uma parodia ao regime politico vigente. Estamos perante um movimento em moçambique que livremente trabalha e escolhe os temas para engajamento politico. A arte em moçambique nunca foi só uma expressão artística de momentos felizes ou de resignação, foi sempre um instrumento de angasma politico, de negociação de identidades, de interpretação do social e de instrumento de arremesso social, politico e económico dos que sempre sentiram a forca e a utilidade da arte na construção de uma sociedade assente em justica social.

Por isso aqueles que acreditam na censura, no boicote, na proibição da criação artística estão enganados na sua pretensão, a historia mostrou que nao existe a coisa mais subversiva e clandestina como a arte e a expressao artistica. Ela existe e vive sempre que exista uma sociedade, seja de escravos ou de homens livres.

Este fenómeno, peculiar em Moçambique, conseguiu produzir três categorias para proibir a liberdade de criação artista: a primeira categoria é formada por burocratas e funcionários de orgaos públicos que relaciona qualquer produção artística de pornográfica. A segunda categoria é formado políticos e funcionários de partidos políticos que caracterizam a produção artística de provocação politica. E a terceira e ultima é formada por religiosos e ideólogos que caracterizam a produção artística como anti-moral e anti-patriótica.

Esta categorizacao é problemática, porque atingiu ate a academia. Hoje antes de fazer qualquer produção artística tenho que pensar primeiro a quem ela vai agradar, se vou ter a simpatia ou antipatia do governo e alguns funcionários públicos. E porque temos esta herança heróica de criar pânico ( para mostrar servico aos que pagam para controlar os outros) e exagerar problemas ate em coisas que sao uma reacção normal numa sociedade, com o barulho e a intenção desmedida de desqualificar o trabalho produzido por azagaia, acabaram por popularizar a obra artística deste jovem que muitos compram ou escutam a musica para poder saber afinal porque esta musica produz tanto medo.




sexta-feira, novembro 09, 2007

txonados e chamboqueados no jazz da vida 4










Para tudo penso que precisamos de jazz, ate para ser txonado. Uma autentica melodia, que transborda nossa angustia sobre o quotidiano. Chamboqueados, somos todos. A cada sopro ou solo. Um casamento perfeito entre a nossa vontade de escutar tudo e de viver tudo. Jazz porque foi assim que ele surgiu, como a musica daqueles que queriam entender seu espaço e sua identidade. E nas ruas de Maputo musicamos nosso corpo e nosso andar. Jazz -amamos qualquer negocio e qualquer espera de oportunidade. Nossa identidade fabrica-se nos espaços que ocupamos para vender, amar, esperar, mijar e mendigar.
E ensinaram-nos que tudo tem negocio, um plagio ao ditado de que jazz tem alma. Qualquer coisa que move nossos sentidos absolutos e seleccionados minuciosamente ao ritmo do nosso quotidiano. Em Maputo, produz-se em cima de qualquer corpo, ritmos com instrumentos do quotidiano e na acácia escutam-se segredos de quem txonado labuta. As vezes o dinheiro nao interessa a muita gente, mas sim o quotidiano de estar ocupado, de negociar o tempo, a fome, o sorriso, e observar outros humanos.
A Vida realiza-se debaixo do sol e da lua. Faz-se amor neste contagio de estar debaixo de tudo: do preço, da cebola, da laranja, do pão, do policia camarário, da esquina, da panela chinesa, da capulana tanzaniana, do sapato nigeriano, do lendo monhé, do giro moçambicano, do 4x4 desenvolvementista, da sirene governamental.

quarta-feira, novembro 07, 2007

a personalidade do utero 4



A viagem

Tem dias


E Vida

Grande


E caminhos

Intermináveis

É um pouco

Da vida

Aquela modesta

E ciumenta

Nas viagens

O sol e a mulher

Tem outro prazer

Na fotografia que se tira


O amor vira

Uma pentax

Que vai sempre

Ao colo

Do mar

terça-feira, outubro 30, 2007

la famba bicha 13






CENTENAS de munícipes de Maputo afluíram ontem em massa ao “Maputo Shopping Centre”, com objectivo particular de testemunhar a abertura ao público daquele que é o maior centro comercial até então construído no país, e com capitais totalmente moçambicanos, num investimento do Grupo MBS, liderado pelo empresário Momade Bachir Sulemane. Maputo, Sábado, 27 de Outubro de 2007:: Notícias


1- Escolhi o nome chapa100 para este blog motivado por razoes de estética e de convivência social. Com andar do tempo, fui obrigado reconhecer este amantismo exuberante com a memoria e o tempo que dispensamos a coisas na vida. As vezes somos obrigados a deixar que os outros tomem conta de nos, "empacotem" nossa liberdade com outros sentidos. Alguns mais violentos e outros mais amiúdes. O mais caricato é a nossa serena condição de leva-tudo, já nao basta que consumamos tudo. Tudo aquilo que nos olhos nao cabe para contemplar e na língua chega para saborear. Somos vendedores do nosso próprio destino, os mukheristas da indiferença.
Escrevo isto porque nasceu mais um cogumelo gigante em Maputo. Em muitas sociedades é símbolo da pós-modernidade. Anos e anos comparávamos o nosso atraso em relação a África do Sul, usando este cogumelo como indicador. A diferenca entre este cogumelo e o baoba de pemba, nao esta na sua gigantesca oponencia, mas na sua urbana e desumana vontade de entreter o futuro. O cogumelo anuncia um futuro, que só se manifesta dentro dele. Só que este futuro precisa de bilhete de passagem, Tao moderno quanto isso. Nao há boleia para o futuro, assim como chapa100 nao da boleia, paga e chega ao destino ou espera uma nova e quase que inexistente chance de negociar um nova viagem para o futuro.
O baoba de pemba, esse reserva agua, frutos, medicina, sombra, tudo que no deserto faz um futuro. A sua oponencia é Tao humana, como a nossa vontade de viver mais e ter memorias de uma Pemba presente e indicador da nossa real existência.
2 - O que inquieta-me com este cogumelo, é a sua real vontade de ser urbano. O mais problemático é o silencio dos que requisitam e facilitam a existência destes cogumelos. Quando este shopping Center foi planificado onde estavam os arquitectos e urbanistas cá da praca. Onde estavam os economistas, cientistas sociais cá da praça. Imagino que estavam nos escritórios ou nos blogs como eu. Um vicio perigoso esse, o nosso. Que impacto este cogumelo vai ter nos pequenos empreendedores de lojas na baixa e outros lojistas de Maputo? Com o trafico e o engarrafamento que temos na baixa, o que este cogumelo vem acrescentar de mais valia ali na baixa? sabemos ate agora que o parque automóvel em Maputo, da baixa em particular, utiliza/ocupa espaços que deviam ser dispensados para lazer ou para o peão, e com este cogumelo quantos espaços de parqueamento serão criados, que permitem a devolução dos espaços de lazer para os citadinos de Maputo? Esta historia de que este cogumelo vai criar nao sei quantos postos de trabalho nao pega, que relação existe entre os postos de trabalho que ele cria e os que ele destroi no pequeno comerciante? E nao temos informação se este cogumelo, como muitos outros que em nome de investimento moderno, recebeu isenção fiscal? e se recebeu isenção fiscal quem vai pagar os passeios destruídos pelos carros que galgam, ocupam os espaços reservados a lazer, o tempo perdido no engarrafamento naquela zona da baixa? erário publico. eu digo os meus impostos.
3 - Não estou contra cogumelos do futuro, mas este futuro que nao trás qualidade de vida aos citadinos de Maputo nao anima. O exemplo que temos da forma desordenada como sao feitas as coisas, o prédio cimpor no cruzamento entre a 24 de Julho e a Julius Nyerere, roubou o espaço de respiração e estética daquela cintura, o mesmo aconteceu com o prédio dos chineses e outro nao acabado ali em frente ao tribunal supremo, aquele espaço podia ter sido usado para reflorestamento e protecção de barreiras, anexando aquilo ao jardim botânico, o nosso Tunduru. A outra coisa que nunca entendi, é a mania do deixa andar que permitiu a construção de condomínios e supermercado na zona do costa do sol, sem estudar a questão de mobilidade, saneamento, vias de acesso, protecao a orla marítima, (sem contar com a destruição de mangais e dunas). E o cumulo, a nossa elite do deixa-estragar esta la todo o fim de semana, com um parque de viaturas insustentável para aquela zona, disputando o espaço com o peão, banhista e a vegetação/arvores ali existente. Nao é altura de interditar a circulacao de viaturas aos fins de semana para aquela zona?.
3- entao manos, tambem preferem cogumelos e nao boabas? nos bairros perifericos de maputo ja temos cogumelinhos, uma chatice desse desenvolvimento futurista.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Azagia e o seu Babalaze






recebi do azagaia a informacao da disponilidade do seu novo video "A MARCHA", confira aqui.  E de que "O BABALAZE estará disponível nas lojas a partir de 11 DE NOVEMBRO, PARTiCIPAÇÃO ESPECIAL do mano VALETE". trabalho lancado pela Cotoneterecords.




sábado, outubro 27, 2007

chapacentadas ideias



com o debate interessante sobre a integracao regional, o acordo de comercio entre SADC e Uniao Europeia, a cimeira africa-europa, o papel da ajuda como agente dinamizador nas relacoes com a periferia, convido aos chapacentados manos da blogsfera a ler " O Poder Global e a nova geopolítica das nações"  livro do cientista politico brasileiro José Luís Fiori ( 2007)  onde podemos ler que “a política só pode ser eficiente onde exista algum poder a ser conquistado, e cujas diretrizes possam ser alteradas”.

terapia jornalistica

Na actividade de psicoterapia, ou mesmo psiquiatrico, lidamos sempre com a questao etica e de tecnica/intervencao: control e ajuda.
E porque este "dilema" professional faz nosso quotidiano na aprendizagem e popularizou muitas teorias e escolas da cienca psico-comportamental. Na nossa relacao com o paciente e ou cliente, inventamos varias "dicas" para lidar com a situacao de escolha de tecnicas, intervencao, e metodologias. E todas estas escolhas sao sempre acompanhadas de humor.
veja aqui um caso interessante de como Pedro Nacuo, exercita o control em forma de ajuda (conselhos), caso para dizer terapia jornalistica.

terça-feira, outubro 23, 2007

a paz é sinonimo de um pais que existe


E veio. o prémio. Brilhante como um cometa livido, que nunca vimos. E o mundo pergunta, quantos dormem e nunca sonham. E o sono diz: quero a paz para sonhar.
A paz tem o feitiço de nunca habitar o imaginário de muitos vivos. Tao arbitraria é a sua escolha, que faz nosso destino uma infância de espinhos. De sonhar angustiante para alem do sonho de estar vivo. Sonhar esforçado para que cada silencio de armas e lágrimas seja tão real. Assim foi nosso quotidiano, correr para alem do sono, por isso inventávamos amuletos e maparamas, para emprestar o sonho aos vivos, e esperar que a noite caia e possamos sonhar o real : a paz. este prémio junta-se ao real da nossa descoberta: a paz esta nos homens, nunca transcendeu a vontade do corpo, do espírito e da vida. só dos homens depende a paz. parabens presidente Joaquim Chissano.
"Poema do Futuro Cidadão"
Vim de qualquer parte
de uma Nação que ainda nao existe.
Vim e Estou aqui!
Não nasci apenas eu
nem tu nem outro...
mas irmão.
Mas
Tenho amor para dar as mãos-cheias.
Amor do que sou
e nada mais
E
tenho no coração
gritos que nao meus somente
porque venho de um pais que ainda nao existe.
Ah! Tenho meu Amor a todos para dar
do que sou.
Eu!
Homem qualquer
cidadão de uma nação que ainda nao existe.
In "XIGUBO", Maputo, INLD, 1982;

domingo, outubro 21, 2007

O mundo, com duas vidas e um jovem II




no ambito to projecto one day in maputo, Honza Zaloudek e Jorge Matine fazem a janela de praga, um prefacio ao livro amordezinco ( 2005).

sexta-feira, outubro 19, 2007

zarolho, o poeta de mabuzina 2

O comboio parte duas vezes por dia. As cinco horas da manha com operários e prostitutas. Quando o sol já nao se esconde, dez horas da manha com alunos e contrabandistas. Não há comboio de regresso. São 10 km que separam a vila da ultima localidade. Porque o rio corre o lado norte da vila, todos regressam de barco. São catorze barcos que regressam. Os estudantes e contrabandistas são os primeiros passageiros.
Estamos habituados que o sol nasça cedo. Não há poente, mas há cacimba, moscas e algumas baratas que desaparecem, no passo apressado do operário atrasado. O nosso esconderijo é um hotel velho, de dois andares. Os quartos do ultimo andar sao os únicos ocupados. Não há cozinha, mas funciona o bar quando celebramos um assalto. O gerente somos todos nos, mas a puta cacilda cuida da cobrança para uso da casas de banho. Não há canalização, rebentou. Os ratos roeram tudo. Dizem os mais velhos, hospedes sem bagagem. O Pedro vive cá a 5 anos, tem feitio de ser o mais o velho, fala pouco e todas as putas chamam-lhe “o zarolho”. O nome é antigo como os sapatos pendurados na recepção do hotel e a cadela que adoptamos. A zarolha nao ladra, coca-se todo o dia. Zarolho disse que ela foi assustada pela buzina do comboio, nao mais ladrou

sexta-feira, outubro 12, 2007

A andorinha do mugabe 2



1- O debate sobre o Mugabe é um tema fantástico. Porque tem muito haver com a nossa relação „ ambivalente“ com o mundo. No mundo do fantástico, a ambivalencia esta na subjectividade dos espaços e dos seus actores, no dilema entre o real e a ficção.

No primeiro texto nao era intenção minha „misturar“ a minha biografia, da adolescência, com o realismo instrumentalista do debate sobre o mugabe. Apesar de entender que os espaços da nossa afirmação e sobrevivência social resultam dessa interacao do fantástico com os espaços de identidade e interpretação do nosso percurso „histórico“.

A crença infalível da andorinha nao esta na sua relação com o fantástico, mas na sua interiorização. Assim como o poder (no caso do mugabe), nao esta na sua manutenção, mas na interiorização dos instrumentos e sistemas que permitem identificar esse poder na relação social numa sociedade.

2 – A complexidade da nossa historia de libertação nacional, como a do zimbabwe, tem vínculos na promoção do fantástico, personificados na nossa sugestão sobre a critica, valores de soberania, percepção do estado, da democracia, de justiça, de cidadania, e da autonomia politica e moral do individuo.

Os defensores da politica do mugabe, baseiam o seu argumento na complexidade da historia de libertação dos povos africanos contra o jugo colonial. Que a politica do mugabe é ainda a continuidade da luta de libertação contra o regime racista de Ian Smith, ontem e hoje representado pelo Governo britânico. Só que este argumento é problemático porque hoje Zimbabwe é um pais soberano, que assenta em valores de uma sociedade capaz de autonomia moral e politica.

3 - A autonomia moral e politica representa os mais altos valores de justiça, segundo a filosofia dos movimentos de libertação, que eram negados aos povos africanos pelo colonialismo. A luta dos movimentos de libertação estava assente nos princípios de justiça entre sociedades e justiça dentro da sociedade. Para isso basta ler os documentos levados pela FRELIMO a Lusaka e o manifesto da ZANU em Lancaster House.

O Elísio macamo num dos seus „vários“ textos escreve que nunca chegou a entender porque após a independência escolhemos um sistema que se mostrava incoerente e insustentavel no mundo como sistema de organização social, económico e politico adequado para Moçambique. Jacinto Veloso no seu livro memoria do voo rasante faz uma bela e intrigante tentativa para justificar a nossa „opção“ soberana. O contexto da guerra fria, a opressão e dominação racista e injusta aos povos Sul africanos e zimbabweanos e a nossa incondicional solidariedade pela autodeterminação do povos são algumas das muitas razoes que justificaram nossas opcoes politicas no passado.

Neste contexto do questionamento do fantástico, pergunto-me as vezes o que levou a RENAMO a optar pela guerra civil como opção única para instalar a democracia em Moçambique? A renamo muitas das vezes justifica que a guerra civil foi justificada pelo tipo de regime e sistema instalado em moçambique: marxista-Leninista, que negava a democracia.

Esta justificação da RENAMO é problemática porque ela faz uma relação directa que a falta de direitos democráticos automaticamente leva a guerra civil. Problemática ainda porque baseia-se na razão de que as nacoes democráticas nao vão para a guerra.

4 – Então numa leitura „apressada“ diríamos que a andorinha do mugabe é esta problemática forma de ler as relacoes sociais, económicas, e politicas no mundo. Para mugabe as suas opcoes politicas nao são coerentes com a experiência de luta dos africanos sobre a construção de um estado menos fictício e mais real, que é o maior desafio que a modernidade oferece aos povos africanos. A opcao do Mugabe é esta problemática forma de nao saber diferenciar os espaços etnocentricos e ocidental de inspiração politica e os espaços de afirmação e realização real das aspiracoes sociais e politicas dos zimbabweanos.


Para os moçambicanos, segundo os varios paineis de debate na blogsfera, queremos que os valores e instituicoes de convivência e organização politico-social sejam mais justas dentro da nossa sociedade e também na nossa relação com outros povos. Por isso o Zimbabwe interessa a muitos de nos e muito mais , o zimbabwe é o melhor termómetro possível hoje de medir o nível de valores e princípios que guiam as nossas instituicoes democráticas e nossa elite politica nacional sobre a concepção de justiça e liberdade dos povos. A indiferença ou a tolerância do nosso governo em relação as injustiças sociais e politicas influencia o nosso dialogo com outros povos e com a concepção do mundo. As opcoes de realização dos povos africanos esta na sua real vontade de viver em sociedades mais justa nao só consigo próprio mais também com as sociedades „distantes“.

5 - A andorinha do mugabe é o dialogo constante entre as nossas opcoes como actores da estabilidade regional aqui na África austral. O debate sobre o Mugabe tem esta „ventoinha“ forma de espalhar as cartas que permitem ver como nossas opcoes politicas são perpetuadas na crença que temos na andorinha, se corremos ao estilo marcha-atras ou corta-matos nao interessa. Porque no final a crença resolve tudo. E o fantástico também. uma pura ficção inspirada no real das coisas: os interesses políticos e económicos das elites politicas e militares africanas.

terça-feira, outubro 09, 2007

E deus que nunca "vimos" chorar 1

Assim comeca uma manha. Todos choramos por uma causa qualquer. Porque deus encomendou que deviamos chorar. Desprovidos de qualquer lagrima. Segundo a lenda os homens choram todos os dias, para salgar a fome. Degustamos um prato sem sal porque existe comida. E empurramos nossa fome para a cozinha da nossa sobrevivencia. Entao choramos. Como criancas em coro. Nao ha alento no choro de adultos. Deus desculpou.
Algum dia os homens caminharam sem chorar? Nao, diz a lenda. Afinal choramos por que imitamos um deus. Ele chora calmo e sereno. Nao existe a culpa, nenhuma, para chorar sem desproporcao. Por isso as mulheres choram com beleza. Descobriram um deus que as segredou sobre o sorriso que deve nunca desaparecer. Zangaram os homens? Nao, afinal as mulheres choram aos bocados, na proporcao do utero que semeia nossas crencas.

domingo, outubro 07, 2007

a personalidade do utero 3

a ouripota, sobre os curandeiros da modernidade.
Chegas a um lugar desconhecido. Não é importante que te reconheçam. O mundo a tua volta esta cego. Os olhos são o nada, quando comparados a perna com que caminhas. Os passos são tão leves. Afinal mesmo com tua chegada este lugar é estranho.

O lugar é um destino para muitos como tu, inabitado, preso nas colinas de um horizonte infantilmente desbravado. Porque nao existe outra vontade para alem do suspiro de que sobrevivemos uma viagem inadiável. Não existem viagens preparadas, só o tempo prepara nossa descrença pelos bosques, assim foi a lenda que inspirou nossa vocação de carregadores de destino.

segunda-feira, outubro 01, 2007

a andorinha do Mugabe

1 - quando menino caçava andorinhas. melhor tentava caçar. comi tantas andorinhas. dos que conseguiam caçar. sempre fui o menos sortudo com a fisga. eu menino de chamanculo, eles refugiados de guerra da renamo, vindos de vilankulo. a minha esperteza estava no português que conhecia para enganar o guarda da escola primaria da Munhuana, para pegar a andorinha no telhado. assim foi, quase uma infância inteira.
2 - foi com a malta de caçar andorinha que descobriram-me para desportista. não sei de onde surgiu a ideia, o boato ou a crença, de que uma andorinha come-se correndo e sem olhar para trás. assim com a minha gang fazíamos um sprint de mais de 400 metros mastigando a carne assada, de andorinha. nunca questionamos o porque do ritual. afinal em vilanculos era assim. na maderazinco de chamanculo era assim. e assim fui descoberto pelo hoje Cameraman da TVM, antigo treinador da escola de jogadores do clube Muhafil.
3 - e a crença ocupou outros espaços de afirmação. justifiquei que seria convocado para a equipa principal se continuasse a correr e mastigando andorinha. nunca questionei se a corrida e o domínio da bola estava na técnica e nos treinos. era a adolescência das coisas, a crenca da invencibilidade e da perfeicao estava assente da magica forma de uma andorinha que explorava o ceu e o horizonte dos espacos nunca por nos conhecidos. joguei mal ou bem, a andorinha funcionou e disfuncionou, como qualquer outra crença.
4 - fui para o desportivo, afinal era ali no equipamento andorinha que podia ganhar. a crença ganhava outros valores. era preciso ter ambição. o técnico Uzaras, desmistificou a andorinha: "voce corre muito e joga como uma mulher". desde quando uma andorinha joga como uma mulher? será que já não mastigo bem a andorinha? meu amigo de vilanculos segredou-me que teriamos que correr de costas, ao estilo marcha-atras, e fomos correr nos eucaliptos, hoje edifícios da TVM e companhia mata-eucaliptos-distroi-barreiras.
5 - correndo e fintando eucaliptos, somos descobertos pelo mister do maxaquene. a andorinha não tinha clube de preferência pelos vistos. assim ficamos inscritos na equipe de atletismo do maxaquene. como explicar ao mister que só podemos correr mastigando uma andorinha assada? como explicar que correndo as voltas na pista de atletismo, no campo de maxaquene, nao satisfaz a nossa crença?
6 - esta "lembrança" de uma infância quase infalível vem aproposito do debate sobre o Mugabe e Zimbabwe. deve existir uma andorinha na crença do mugabe sobre a maratona politica. mastigando sentado, para livrar-nos de rugas e de pensar o futuro. a andorinha foi o machimbombo de muitas paragens, a viagem dos sonhos mastigados numa crença de adolescente. para mugabe a crença de um poder infalível, coexiste numa crença de adulto, mastigando um pais numa corrida ao faz-de-contas.

segunda-feira, setembro 10, 2007

la famba bicha 10


os ultimos 3 meses tem sido uma batalha para manter o blog. mas nao ha razoes para alarmes, assim voltamos nos com o mesmo barulho de sempre. no encontro com os blogistas realizado no SNJ, ficaram tarefas por cumprir. como sempre sao tarefas. faltam elos para poderem rolar, para fugir da linguagem desenvolvimentista de termos de referencia. faltava escalar tres distritos, montepuez, chiure e mandimba, o pais de mim (eduardo white). o chapa100 tem esta obrigatoriedade, visitar os escondidos mundos do metical. so apartir de 26 de setembro voltarei a actividade de docencia, com a obrigatoriedade de escrever, mesmo com xibalo. neste momento aproveitamos esta coisa de trabalho de campo e consultorias para beliscar este pais de norte a sul. como escreveu armando artur somos estrangeiros de nos proprios, nesta terra de algodao e oiro ( raul Honwana).
nesta corrida pelo pais tres coisas destacam nosso pais: as bichas do BIM, A rede da telefonia movel que brinca ao esconde-espreita-esconde e liga-mais-tarde, os camionistas de madeira assaltando os distritos e amontoando madeira nos postos de controle.
gostaria de pedir ajuda aqui dos confrades blogistas, em especial ao ilidio macia, que direito tem uma empresa em fazer o pagamento do meu salario atraves do BIM? eu como trabalhador tenho o direiro de escolher a forma de pagamento do meu salario pelo trabalho realizado? posso escolher o banco que quero? quem paga pelas horas que dispenso nas bichas do BIM? como posso justificar uma falta ou atraso ao local trabalho devido ao tempo perdido na bicha do BIM para levantar meu ordenado? os prejuizos decorrentes do atraso na transferencia bancaria para fechar um negocio quem assume, o banco ou a bicha?
na cidade de XAI-XAI os pacientes pediam que eu interviesse na farmacia para obter vale, para levantar medicamentos, porque nao conseguiam levantar metical no banco. recebiamos casos de desmaios e mal estar de pessoas devido a longa bicha debaixo de sol. de quem e a responsabilizacao por isso?

sexta-feira, agosto 31, 2007

retractos do sonho 2



as vezes viajamos no tempo das coisas. conhecemos o mundo. outras vezes o mundo vem ao nosso encontro. com uma lingua diferente e uma mao rasante. nesta tarefa de descobrir pequenos mundos e porque a palhota persegue-nos. convidei a mocambique jovens criadores checos, que durante estes ultimos 4 anos temos produzido e registado varias palhotas e madeirazincos da europa central.
aqui vai um convite provisorio para ver alguns videos/filmes produzidos pelos melhores e jovens autores selecionados para o festival, o maior festival de cinema na europa central, o karlovy Vary (ver: http://www.kviff.com/ ).

quinta-feira, agosto 23, 2007

la famba bicha 9

durante esta ausencia prolongada no blog, motivada na razao de devolver a nossa profissao a practica, vou lendo os pequenos mundos que rodeiam esta profissao. Um dos mundos que rodeia esta profissao e a distancia das coisas. aprendemos que na distancia nao podemos ter desculpas. temos que estar la e trabalhar. e trabalhar e isso mesmo, negar que nao estamos distantes, que estamos perto da solucao, que estamos certos que curamos "tudo" que de nos esperam. dizem que sao coisas da profissao. quem me dera que as outras profissoes fossem assim. pelos menos vizinhas desta forma de namorar a distancia das coisas.
a cada vez que pergunto sobre a distancia das coisas, o enfermeiro sorri. e os meus ombros nao caiem, nao desfalecem, revoltam-se. e o enfermeiro segura meu ombro e sente que a minha revolta esta nas lagrimas que nao consigo segura-las. nesta distancia das coisas aprendemos que a vida esta mais cansada dela propria, que nao passamos de profissionais para devolver ,na distancia, a dignidade a dor e a qualidade a morte.
e com o tempo a distancia toma conta de nos. paramos de questionar o mundo a nossa volta. a lagrima aprende a ficar presa como o orvalho que prende-se a uma folha desmamada.e com o tempo descobrimos que a distancia constroi uma ilha e nao a terra isolada.

quarta-feira, agosto 08, 2007

a personalidade do utero 2

a barriga. dizem os outros que é sagrada. porque nasce. porque acalenta. porque esconde. porque abre portas. é nosso cartao de visitas. a barriga, redonda, quadrada, feia, bonita, carinhosa, ciumenta, catolica, budista, muculmana, é uma barriga. nao interessa o diploma, a palhota ou o mercedes. ela persegue-nos. assim como a lingua. ela so aprende nos lugares por nos habitados, a lingua dos outros, a lingua do metical, ou da convivencia social. afinal de contas é uma barriga. O antonio Gedao dizia que os sonhos comandam a vida, o einstein dizia que o conhecimento comanda a vida, aqui na minha terra é a barriga que comanda a vida.
a nossa barriga, na minha terra, diz tudo. é simbolo da nossa vivencia com o mundo. temos a barriga de dirigente, de mukherista, de pobre, de empresario, de intelectual, da vida boa, da santa, da ma vida, da falta de moral, isso mesmo. existem como nao devia de ser barrigas mais especiais, iguais a barriga da cegonha, como minha mae explicou meu nascimento. enganei-me.

terça-feira, julho 31, 2007

la famba bicha 7

Os problemas de um pais sao abordados? onde? sao discutidos ou engolidos? alguns amigos meus vao dizer que a esteira seria o melhor lugar. Porque quem tem problema senta na esteira e quem tem poder para resolver senta-se na cadeira. O problema deixa de existir quando a cadeira desaparece. Entao para os meus botoes o problema esta na cadeira. E para o meu instinto o problema esta no homem que nela senta.
Para isto nao basta o "saber". Precisa-se fazer crer que existe uma cadeira de um homem que tem solucoes. Para alguns a cadeira resolve tudo: feitico, amor negado, dinheiro, atrasos de salario, amante perigosa, bichas, falta de transporte, malaria, SIDA, Pensar direito, um infinito de resolucoes e solucoes. O poder esta na cadeira e nao no homem, uma "descoberta" perigosa que esta a dar frutos no pais.

quarta-feira, julho 25, 2007

la famba bicha 6

"O sacrifício de Tântalo: desDOADORizar as eleições (1)" ver no blog do carlos serra, diario de um sociologo
existe dinheiro responsavel, que pensa. o metical tambem pensa, tem responsabilidade. mas de uma maneira diferente. agora que este pais "virou" um palco interessante de politica internacional. sempre foi, mesmo nos tempos do alinhado e nao alinhado. agora no tempo de exemplo de sucesso tambem sofre mutacao, da mesma maneira que roma foi substituida por bruxelas, e ilha de mocambique pela lourenco marques. a mao de dar tambem muda, porque o pedinte ficou esperto e "amante" da desculpa da preguica.
ser mendigo tem sua arte, a responsabilidade de dignificar a esmola, por isso ele pede e nao arranca. e quando o mendigo muda de tactica nao pode esquecer a esmola do passado, sera sempre um referencia para calcular a esmola do outro.
a entrada dos chineses, indianos e outros parceiros economicamente forte, na logica mundial, tambem mudou a relacao e o poder da ajuda. quando existem descobertas que na esmola tambem existe rivalidade, entao a esmola tem condicoes: pedir com respeito, guadar o carro, lavar o carro,nao comprar alchool, etc.
acho que estamos perante um braco de ferro interessante, politicamente somos os pedintes mais comprometidos com a responsabilidade da esmola, mas tecnicamente somos os mais ineficientes e irresponsaveis na responsabilidade do uso da esmola. aqui os doadores querem mostrar ate que ponto sao imprescendiveis, marteketizar o capital de ajuda e influencia politico-socioeconomica, ganha nos anos pos-guerra. para os outros a unica "plataforma" possivel para travar o fenomeno do centralismo politico e o Uno-partidarismo democratico.
entao nao estamos perante uma esmola que nao pensa. na esmola esta uma mao direita que da e uma mao esquerda que exige. um catolicismo capitalista e de poder estrategico.

sexta-feira, julho 20, 2007

txonaddos e chamboaqueados no jazz da vida III

Ibrahimo. seu nome. nao foi preciso apresentar-me. ele conhece-me. nao sei donde. talvez de uma cumplicidade anonima. Ibrahimo vende bolinhos fritos. eu vendia chamussas.
Eu vendia chamussas nos anos oitenta, eu candongueiro, no socialismo cientifico. Ibrahimo, no ano dois mil e sete, ele vendedor ambulante, no capitalismo selvagem. o tempo passa e a vontade de ser crianca continua refem de um sistema que precisa de criancas. somos anonimos.
Ibrahimo e perseguido pela policia municipal, eu era perseguido pelo miliciano. somos parentes de um destino adiado. as nossas maes deviam ser irmas, nao de sangue, mas de um ventre pobre.
Ibrahimo, nao fala muito, porque as palavras sao sempre as mesma: compra bolinhos senhor. seus olhos sao negros e cansados, como o suor que banha seu rosto. vigio-o da minha janela. a bacia de bolinhos corre ao ritmo das janelas do autocarro e das vozes gritantes que chamam pelos vendedores que assaltam o autocarro.
digo ao cobrador que vou descer nesta paragem. afinal nao vais para nacala? pergunta o cobrador boca-aberto com o cliente sem palavra. resmunguei e pago uma nota de 25 MTn.
Ja na estrada chamo pelo Ibrahimo, ele corre com a bacia de bolinhos e nao com os pes. estao pesados. a bacia devia pesar uns 10 kilos para oito anos da sua idade.

assim conheci o Ibrahimo Assane.afinal somos filhos do mesmo pais, mocambique.

la famba bicha 4

o que maputo tem de extraordinario. pergunto a mim mesmo. afinal as viagens sao para isso. questionar a nossa propria certeza. descobri que maputo tem de extraordinario uma capital. para quem vive na periferia uma capital e um olho gigante. tens o melhor angulo para calcular tudo, ate a preguica dos outros. na capital somos educados que a pressa, a falta de tempo pode ser um cartao de visitas para classificar os outros de prestaveis. e o pais desenvolve-se a volta dos prestaveis. aqueles que sabem tirar partido da pressa e da falta de tempo. um recurso esgotavel, na terra de meticais.
afinal existe um mundo onde a pressa e a falta de tempo nao interessa. lugares onde existem capitais nao extraordinarias. onde a pressa e a falta de tempo nao tem prestacao possivel. uma capital de um pais honestamente diferente. onde tudo interpreta-se na noite ou no dia. os encontros nao sao feitos na agenda que categoriza a hora, mas na arvore que oferece a sombra. aqui aprende-se a esperar ate o tempo desaparecer. esperar e mais extraordinario que a pressa. na espera namora-se o mundo que nos rodeia, a capital dos outros.

quarta-feira, julho 04, 2007

la famba bicha 3

aqui volto. nao esqueci do dever de alimentar o chapa100. mas as estradas estao cheias de surpresas e visitas. ha 20 dias estou e vou viajando por Mocambique, Cabo Delgado, Nampula e Tete. aprendi a ver o pais com seus meticais. um pais que gira, ginga, empobrece, enriquece, abandonado, amparado, amado. As vezes o mundo gira tao rapido, com metros e segundos que namoram nosso espanto: os sobreviventes do metical. mas o mundo gira. feito de pequenos globos, de gente, etnia, distrito e pequenos paises de meticais faltosos. uma ilha de vontades e sonhos.

sonhos. todos sonham, alguns mais altos, outros mais rastejantes. mas sao sonhos de muitos sonos e insonias. alguns de uma cama macia, outros de um chao duro. mas porque parar de sonhar? pergunto aos meus guias. E eles tropecam na minha pergunta. para eles o sonho nao existe assim tao humano e cheio de vontade. porque sonhar quando falta tudo? perguntam. vi que as perguntas sao importantes. nao pela resposta. mas pela falta de resposta. e o mundo gira, com sonhos emprestados, alugados ou roubados, o mundo gira. pode parecer lento, porque nao ha relogio, com prazer da vida, de transformar sonhos.

no caminho. mapea-se tudo. uma arte antropologica de estimar tudo. aquelas coisas que nos fazem rir. afinal quem chora tem que saber rir. nao existe outro alento para isso. onde falta lapis nao falta um sorriso de crianca, onde falta aspirina nao falta um acenar de boa viagem. e o pais vai nascendo assim. uma gravidez constante. nascem aos mil. e a escola ensina as dezenas. nao ha recurso neste pais capaz de acompanhar e acalentar esta barriga que nasce a cada minuto. somos um pais de criancas, numa miseria de adultos: calculamos a nossa pobreza nao nos filhos que morrem, mas que nascem.

nestes caminhos somos estrangeiros da ciencia. nao ha logica para entender as coisas. elas acontecem. porque para muitos a explicacao ja esta abencoada. nao questionar faz parte do amor que embelezamos o encontro com o outro. o sexo, a vida, o dia, a noite, a religiao, o sol, o corpo, o caminhar, o dinheiro, a troca, a compra, a escrita, o conto, o romance, a poesia, o canto, a danca, servem o misterio para explicar os fenomenos que fogem a pergunta sobre a logica das coisas. as coisas existem porque tem que existir. e assim sobrevivem no tempo. amamos as coisas por elas existem e nao porque sao inventadas e sonhadas.

e desenha-se o pais numa caixa magica e seus acessorios. a caixa magica nao tem mais nada que telenovelas e sms para quebrar nossa rotina e fazer de conta que descobrimos o outro. os acessorios, sao outras naus do vasco da gama, tem rotas diferentes mas vivem a mesma cultura, descobrir o outro como mercado e produto: Mcel e coca cola. nao ha disputa possivel, com capitalismo se namora tudo, pelado ou vestido, nao interessa. e assim ama-se um pais acreditem.


sexta-feira, junho 29, 2007

la famba bicha 1

vou comecar aqui no blog a publicacao de algumas notas de discussao sobre varios pontos que ja nao consigo ficar calado sem poder reflectir sobre eles. a reflexao sera produto da minha pressa e atropelos chapacentados do registo que poderei fazer dos temas aqui abordados na imprensa e na blogsfera mocambicana. entao manos vamos la ver:
"Explicou que os casos de assassinatos de parte dos elementos da Polícia da República de Moçambique reflecte exactamente o “terrorismo” que os malfeitores têm estado a semear contra as forças da lei e ordem. Por este motivo, de acordo com o governante, a Polícia irá responder, também de forma violenta, a todos aqueles que empunham armas para o cometimento de delitos. " in noticias 29/06/07

Como podemos construir problemas assim? será que produzir solucoes interessa ao nosso governo? tenho medo que já não precisamos pensar, estudar as coisas, que inquietam nossa própria vivência e responsabilidade governativa. O que esta em causa aqui já não é a competência dos que nos governam, mas o partido politico com programa, competência e quadros para governar. Quando não mais podemos solucionar nossos próprios problemas chamamos os outros, e pior quando esses outros não tem cara. Agora resolveu-se fazer um copy and past perigoso, porque o conceito copiado põe em causa qualquer forma de pensar direito e governar com responsabilidade. esse conceito chama-se "terrorismo". ele responde e veste a mesma camisa da generalização e medializacao dos problemas mal estudados, que muitas vezes camuflam o que esta por detrás das nossas intencoes. são conceitos como estes que mal empregados só servem aos políticos e traumatizam uma sociedade. Ate agora na ordem mundial o uso deste conceito faz e fez de nos reféns de uma verdade que não existe, construída dentro de um paradigma para munir um estado de incompetentes e musculosas mentes desumanas.

O ministro Pacheco (que ate a poucos anos era um dos jovens competentes deste pais) esta a sair da estrada. e esta a entrar por uma estrada perigosa. há dois anos que o ministro ainda não produziu um estudo sobre o crime em Moçambique, a esta altura o ministro devia ter percebido que as estatísticas sobre o crime que nos são apresentadas pelo comando geral da policia não oferecem um quadro analítico para produzir politicas e estratégias de segurança publica. O desafio institucional que o ministro introduziu no seu ministério não esta a responder a dinâmicas sócio-económicas da sociedade moçambicana. o desafio institucional que devia perturbar o sono dos quadros senior do MINT não é fazer a lista das necessidades, mas sim, como produzir instrumentos que possibilitam uma visão realista do crime em moçambique:

1) identificando dinâmicas sociais especificas que possibilitam a "produção de comportamentos" anti-sociais. a policia precisa de conhecer a sociedade e os espaços onde o crime é produzido.

2) identificando comportamentos institucionais que provocam fragmentação e improviso na actuação da policia. reforçar que a actuação da policia em relação a qualquer crime facilite o desenvolvimento de sistemas internos de registo e estudo do crime, e não a cultura de passar por cima de procedimentos, leis, e "cozinhar" dados estatísticos.

3) Identificando praticas de investigação criminal que impossibilitam a simplificação no registo de crime, abertura de uma queixa, registo de denuncia, protecção da vitima.

4) Identificando factores e fenomenos culturais e sociais que determinam a demanda para os serviços da policia ( exemplos: violência domestica, racismo, conflitos étnicos, cultura de gangs, consumo abusivo de alcohol, prostituição, comportamentos de risco no verão ou inverno, porte de instrumentos contundentes, etc)

5) identificando práticas que impedem um conhecimento claro das funcoes que cada unidade policial ou instituição do MINT desempenha ( Exemplo: porque muita gente pensa que uma queixa ou denuncia só terá solução se envolver o comando da PIC e não recorrer a esquadra mais próxima. a policia de protecção civil vulgo "cinzentinhos" a exigir cartas de condução e inspeccionar aspectos técnicos de uma viatura, agente da policia comunitária como agente denunciador de criminosos e não agente mediador e facilitador na relação policia-comunidade para prevenção, denuncia e apresentação de queixa criminal, etc)

6) identificando razoes porque a estratégia de segurança publica ou intervenção da policia não é desenhado tendo em conta os constrangimentos da capacidade institucional, e não a cultura dogmática de que quanto maior for a disponibilidade de recursos e meios a policia produzira resultados imediatos, de impacto positivo na sociedade. ( para evitar reformas e intervencoes insustentáveis institucionalmente como aquelas das motorizadas, carrinhas, bicicletas, que só desacreditam a nossa policia)

7) identificando porque os constrangimentos da capacidade institucional da policia a longo e curto prazo não são incluídos no desenho da politica e estratégia de segurança publica. e porque não temos planos estratégicos e estratégia de segurança publica por província, sector por sector, especialidade.

8) identificando que aspectos e sectores da reforma institucional da MINT estão exageradamente "idealizados" ou com potenciais conflitos entre a estratégia escolhida para fazer reformas e os constrangimentos orçamentais, impostos pelo nosso orçamento geral do estado. ( para não assistirmos este teatro da fala de meios quando bem sabemos que estamos a falar de um estado organizado onde instituicoes recebem aquilo que planificam ou fazem lobbies para receber mais)

9) Identificando porque O MINT pensa que os meios circulantes são mais importantes que infra-estruturas. avaliando pela quantidade de carros e motorizadas que entraram no MINT nos últimos 15 anos não imagino quantas esquadras teriam sido reabilitadas e quantos bairros novos de moçambique teriam novas esquadras. porque investir em infra-estruturas é investimento a longo prazo ( acompanhado de um sistema de gestão e manutenção em parceira com o sector privado e comunidades locais)

10) identificando práticas inovativas de prevenção e manutenção de ordem publica. ( com a quantidade de guardas e agentes de segurança privada em varias casas e estabelecimentos comerciais , não percebo porque não há colaboração na identificação de potenciais actos criminais, activação de alertas SOS, assistência de primeiros socorros, alertas periódicas sobre comportamentos e práticas criminosas, etc)

11) identificando desafios institucionais na área jurídico-legal e cooperação interministerial. (que prioridades na reforma da justiça e leis em moçambique podem tornar a estratégia e politica de segurança publica efectiva e eficiente: o sistema prisional, o funcionamento dos tribunais, o direito criminal, os paióis e armamentos sem controle, a fragilidade das instituicoes como família, escola, controle migratório, etc)


As questões levantadas acima, são aquelas que não consigo ver elas reflectidas no discurso do nosso ministro de interior. o que esta faltar ao meu ver não é só um estudo sobre a dinâmica social que criminaliza as relacoes sociais e económicas de moçambicanos, mas a falta de capacidade das nossas instituicoes politicas em problematizar as coisas, não interessa neste momento saber que o ministro não tem meios, mas o que vai fazer com esses meios se disponíveis e como. imagino que o desafio institucional do MINT seja um bicho de sete cabeças e a sua complexidade não pode ofuscar a capacidade visionaria dos nossos governantes quando são confrontados com desafios. Esta cultura generalista de que o crime violento combate-se com uma resposta policial violenta é muito frágil porque mostra a ideia politica que temos do MINT, este ministério não é para combater criminosos como sua vocação principal mas para manter a ordem publica respeitando, a ordem jurídico-legal vigente, os deveres positivos da policia, do ministério publico, dos tribunais, respeitando e protegendo o cidadão. O ministro Pacheco tem que por os quadros do MINT e da CIPOL a produzir o crime, sob pena de assistir-mos a linchamentos a escala tsunami.

sexta-feira, junho 22, 2007

palavra d'honra a luta continua

1 - Durante duas semanas o porta-voz do Ministério da Defesa vem dizer que foram descobertos 80 engenhos explosivos, três meses após a explosão do paiol de Malhazine que vitimou mais de 100 pessoas. Segundo Mataruca o Ministério da defesa criou varias equipas para sensibilizar as populacoes e denunciar a presença de engenhos explosivos. ( fonte: http://www.rtp.pt/index.php?article=287671&visual=5).
Como diz o professor Elisio Macamo " o disco esta furado", demasiado furado. O Ministério da Defesa esta a brincar connosco, moçambicanos. Ate agora nem o chefe do estado maior, nem o chefe responsável pelo armamento vieram dizer algo sobre os aspectos técnicos ligados a explosão do paiol de Malhazine. O ministro esse resolveu sacudir o casaco, afinal não é tarefa dele guarnecer o paiol. O disco esta furado e dois menores pagaram com sua vida.
O relatório entregue ao Presidente da Republica foi falso, porque se fosse um relatório verdadeiro, o ministério da defesa teria feito um trabalho profissional e responsável para recolha dos engenhos explosivos nos bairros e assistir com perícia necessária as autoridades e as populacoes locais sobre os riscos de uma provável presença de engenhos nos bairros residenciais. Não fez.
Neste pais durante mais de 15 anos andamos a financiar e treinar sapadores. Neste pais ainda não desenvolvemos uma capacidade logística-militar para lidar com problemas nossos de defesa e segurança. O disco esta furado. é este ministério ou exercito que fiscaliza e inspecciona o processo de desminagem executado por empresas privadas? Como posso ter garantias que algum lugar deste vasto pais foi correctamente desminado? perguntar ao porta-voz Mataruca? não, eu não acredito neste porta-voz. não faz trabalho de casa e pensa que somos um bando de delinquentes e doentes mentais fugidos do hospital que o paiol rebentou. o disco esta furado.
Quando o paiol rebentou foram criadas brigadas militares, de saúde, apoio Psico-social, de logística, ministeriais, politicas, etc. Quem coordenou esta operação? como sempre vão dizer que foi o povo. então quem furou o disco? vão dizer que foi o povo. que critérios foram usados para dar por terminado o processo de recolha de engenhos explosivos? vão dizer que foi o povo.
Porque em Maputo esta a fazer frio, o engenho explodiu e matou duas crianças. o paiol explodiu porque estava muito calor. Porque o disco esta mesmo furado, eu propunha que elaborássemos um novo relatório dirigido pelo instituto nacional de meteorologia. porque as temperaturas estão a matar moçambicanos e o governo podia decretar que na previsão meteorológica obrigatoriamente anexar um boletim de quantos engenhos explosivos vão matar, com informação sobre regiões com baixa ou alta intensidade de acordo com a temperatura do dia.
2 - celebramos no dia 25 de Junho a nossa independência. Temos um presidente da Republica poeta. Este ano poderia o presidente escrever e ler o discurso a nação de uma forma ímpar. Falar de nos moçambicanos como povo de cultura, durante anos o discurso a nação foi mais sobre economia, guerra, paz, pobreza absoluta, etc. este ano merecemos uma poesia. depois do discurso do procurador da republica e outros nossos dirigentes, estou com sede de um discurso bonito, inspirador, de unidade, de amor, de romance, um discurso que possa dignificar a beleza do gurue, do monte binga, do lago niassa, da forca do Zambeze, do feitiço das quirimbas, do luar nos zincos de chamanculo, da frescura das águas de Namaacha, da musila que embeleza nossas mulheres, de tudo que uma poesia pode cantar sobre um pais. precisamos de uma nova poesia de combate e não de discursos para inglês ver. por isso senhor presidente, esta ano com todas estas desgraças de paióis, cheias, fogos, crime, terramoto, etc, merecemos uma poesia para embelezar nossa vida.
la famba bicha e pelo dia da independeia a luta continua para Mocambicanos de rovuma ao maputo.

quinta-feira, junho 21, 2007

O mundo, com duas vidas e um jovem I

I
Como jovens somos muitas vezes alertados sobre o risco do mundo exterior e não do mundo interior que corre dentro de nós. Porque a nossa socialização implica mapear o mundo a nossa volta e seus actores e não mapear o pensamento, o sentimento, a duvida, a pergunta que vive dentro de nos? Será que existe no mundo exterior realizações superiores ao mundo que gira dentro de nos? Será que o mundo exterior tem mais certezas do que o mundo interior?


II

Para responder as questões colocadas acima teríamos que analisar a importância da prioridade que o mundo exterior tem em relação ao mundo interior. E não é porque o mundo exterior seja por natureza prioritário em relação ao mundo interior na vida do adolescente e jovem. Na sociedade moçambicana de hoje, os jovens são mais falados pela sua virtude de ser jovem, de ser um grupo etário maioritário, de ser um actor económico imprescindível numa economia de consumo e competitiva, de ser um eleitor em abundância, de ser o espelho atento das transformações sócio-económicas, a cobaia da crise de certezas sociais individuais e colectivas da sociedade moçambicana e muitas outras “coisas” que o jovem é obrigado a mapear para sobreviver no mundo exterior.

III

Em suma o mundo exterior pede aos jovens uma postura de compromisso e responsabilidade. E será que o nosso mundo interior de jovens que é caracterizado por uma vontade de viver com mais intensidade os questionamentos, discernimentos, entendimentos, sonhos, não mereça a mesma prioridade para mapear o mundo?

IV

Em Moçambique a juventude sempre foi abordada como um actor social e político diferenciado, capaz de influenciar processos de transformação social, que pela sua característica estava estreitamento ligado ao engajamento politico ideológico de mapear o mundo exterior. Onde o engajamento do jovem era definido pela capacidade de participar em projectos de mudanças sociais para a construção de um homem novo (moçambicano). Era assim ate poucos anos (atrás), e hoje?

V

Hoje a construção do homem novo terá que olhar para o mundo interior do jovem, que é caracterizado por reflexões pessoais que interferem na construção de sua identidade. Onde esta identidade é resultado da relação entre seus pares e experiências individuais que resultam de um processo continuo de busca, encontros, desencontros, inseguranças, curiosidades, medos, confusões, indefinições, mudanças, crises e crescimentos, que no mundo actual tem que ter a mesma prioridade que mapear o mundo exterior. E não será esta a melhor altura para mapear o mundo interior do jovem se queremos devolver ao jovem a capacidade de ser portador de mudança e construtor do homem novo de hoje, não?

quarta-feira, junho 20, 2007

hangalakane swo sala swi tsongho hi la laku minheta

1 - ha meses que estou adiando a minha ida a Mozambique. Mas desta vez nao tenho razoes para adiar, é ja daqui ha duas semanas. Para os amigos de sempre, em Maputo vou tentar reeditar as famosas noites: o bi-mensal " Tindzava e copos" , o semanal " ameijoasjazz" e as noites de cultura do "Oasis".
2 - Como vou estar desempregado, estou a procura de ocupacao para relaxar do stress de procura de emprego, entao vou caminhar o chamanculo e explorar o chapa100.


la famba bicha

terça-feira, junho 19, 2007

e portugal profundo. ninguem calará

EU SOU LEITOR DIARIO DO blog PORTUGAL PROFUNDO"...EU SOU LEITOR DO PROFUNDO"...porque é profunda a nossa solidariedade ninguem calará a blogsfera e EU SOU DIARIO DO PORTUGAL PROFUNDO"... aqui onde o ATAQUE ÁS LIBERDADES E Á DEMOCRACIA afunda qualquer pais.

quarta-feira, junho 13, 2007

o curto-circuito. ao egidio vaz

I

Egidio! nos amamos um pais porque dele aprendemos a amar as suas maravilhas e suas surpresas. Acontece o mesmo com o curto circuito, que provavelmente provocou incendio no MINAG. Porque conhecemos o nosso amor, nao foi preciso investigar mais, a sua zanga é plena e constante. O curto circuito é parte deste amor multifacetado de patria. Por isso nao encontramos movimentacoes de pessoas estranhas no edificio, por isso trancamos as portas e deixamos os guardas sem chaves. porque o ciume impede-nos. inventamos um extintor para guardar nossas certezas de que conhecemos a zanga do nosso amor, afinal a zanga é sinonimo do amor que cega-nos . No amor, somos alertados para deixar a desconfianca de fora, por isso nao instalamos bombas de agua, porque precisamos do exercicio de balde para muscular o coracao que explode. Nao instalamos um sistema de alerta contra incendio, nao tratamos de seguro contra incendio, nao inspecionamos o sistema electrico e electronico, afinal no amor nao se pode desconfiar.

No amor a coisa mais bela é contar sobre o curto circuito da nossa paixao.se possivel conta em voz alta. Para ninguem duvidar. Todos nos invejam, porque acreditam que nosso corpo produz energia como a cahora bassa. E porque amar a patria é isso mesmo. É intenso. Com um pequeno curto circuito, alertamos os outros do fogo que corre dentro de nos, somos a auto estrada do fogo descontrolado que habita nosso estomago.

E agora ? o nosso poeta eduardo white escreveu:

Por exemplo, o fogo.
O fogo estabelece e seu trabalho,
a sua centígrada destreza para arder.
E não sei se notaste que
na digital matriz da suas febres
o fogo opõe-se,insubmisso,a morrer.
Arde como se definitivo
e quando assim sucede tende a crescer,
busca aquela leveza das altas labaredas,
a implícita tontura das fagulhas.
O fogo arde como se quisesse fugir do chão,
das suas cavernas metalúrgicas,
ascende ao impulso dos foguetões,
à infância astral, à casa solar.
O fogo entristece, por vezes.
Chora inflamável na sua fatalidade terrestre
a estranha e lenhosa prisão
que o prende e embrutece.
Quer voar,
quer a sua ancestral condição de estrela
mas na corrida espacial com que o fogo queima,
na perpétua evasão,
a gula intestina-o
a sua pressa.

uma mao

Uma mao

de mao
grande
de mar

uma mao

de mao
com mar
grande

uma mao

de medo
fugiu para longe
grande da vida

uma mao

de mao
onde o mar
nao mede a mao.


Uma mao

domingo, junho 10, 2007

...e o vento levou.Moolaade reencarnou.

existe luto. de muita morte. de muita gente. de um continente. e porque a morte é o comeco e o terminar de uma obra. seja ela excentrica, abismal, alegre, triste. sera sempre a arte que faz de nos homens gigantes, nascidos de uma baoba. africana.

Sembene Ousmane. cineasta, intelectual, sindicalista, antigo combatente, poeta, romancista. um continente por ele amado. e o cinema fica, na memoria de quem amou casamance. adeus Sembene Ousmane.

quarta-feira, junho 06, 2007

doi doi, o recibo e a bicha

mano salema

lendo teu texto ( ver no mocambiqueonline o texto do salema com titulo: como doi passar recibo) a solução contra a corrupção não é a alta autoridade para combate a corrupção ou o fórum anti-corrupção. os instrumentos de controle e transparencia no aparelho do estado estão la. se introduzir-mos a obrigatoriedade do recibo nos cartórios, hospitais, escolas,...resolveríamos em grande parte o negocio e dumba-nenguismo no aparelho do estado, que chamamos corrupção. veja quantos funcionarios no aparelho do estado no atendimento ao publico não estão identificados, quantas vezes vamos a uma repartição publica e não temos formularios ou fichas de requerimento? quantas vezes vamos a uma repartição publica para levantar um parecer/documento dizem-nos para passar daqui a uma semana, daqui a duas semanas, semanas não tem dias ou calendário ou horas?

então dizem que o cidadão é vitima da corrupção no aparelho do estado. não é verdade. o cidadão é vitima do mau funcionamento do parelho do estado. da falta de instrumentos de gestão eficiente, da falta de responsabilidade de funcionarios publico para com o acto burocrático, da falta de ética e inspecção no aparelho do estado, da falta de um aparelho de estado responsavel e eficiente. e não da corrupção. A palavra corrupção tem a mesma relação com o fenómeno da bicha ( diferente do fenomeno da bicha retratado pelo elisio macamo)

nos tempos idos, tinhamos que formar a bicha para comprar pão, arroz, açucar, fazer matricula, tudo. e quando o pão acabava, não era culpa do padeiro ou da padaria que não planificava e comprava trigo e lenha em quantidade suficiente . quando faltava arroz não era a GOAM que não planificava bem as nossas necessidades. a culpa era da bicha que era longa. a culpa era nossa que não acordávamos cedo para formar a bicha. então tudo que não conseguíamos ter era por culpa da bicha. ninguém se dava ao luxo de questionar o padeiro, o chefe da cooperativa, a GOAM.

assim também funciona com o aparelho do estado. tudo que la acontece justificamos como corrupção. prontos. tentar entender porque falta a obrigatoriedade do recibo, porque não passar o recibo, porque falta a identificação do funcionario, porque as pessoas tem que esperar tanto tempo para um requerimento, porque tudo tem que assinar o director, porque um documento tem que passar por varias instituicoes publicas, etc. não interessa, afinal é corrupção que faz o povo reclamar e justificar a sua pobreza.

não sei porque mas devagarinho vou chegando a conclusão que o laboratório da injustiça, do deixa-andar, desigualdade social, da exclusao social , da fome, do fogo nas instituicoes publicas, do dumba-nengue, da falta de responsabilizacao, esta nas instituicoes publicas. espero que esteja enganado ate prova contraria.

eu acho que passar recibo não doí, doí é pensar.



PS - aqui no forum teve um post sobre a questao de transporte e falta de chapas para kongolote e drive in. Nao escrevi na altura porque nao tinha tempo e continuo sem tempo. Mas este seria um case study para analisar o fenomeno da pobreza absoluta. Por exemplo: quanto tempo leva um chapa100 de museu a drive in e vice versa? Quanto tempo um cidadao espera na paragem por um chapa no drive in ou no museu? Um cidadao com uma bicicleta percorrendo o mesmo trajecto quanto tempo leva? Qual e a probabilidade de ocorrencia de acidente entre o chapa100 e o cidadao de bicicleta no mesmo trajecto? Um cidadao que trabalha no museu ( entra as 7:30 e sai as 15:30) quanto tempo levaria para chegar a casa (drive in), dar de comer as suas duas criancas, e as 17:30 apresentar-se a escola na uniao geral das cooperativas ? e imaginemos que nao é aluno na UGC, mas sim professor do curso nocturno na escola mista de chamanculo, as 18:30, existem ligacoes do chapa100 possiveis? Quanto tempo levaria?

Para mim com o problema de transporte em maputo, a probabilidade de alguem ter mais de um emprego é nula. A mobilidade de mao de obra que é um factor importante na criacao de emprego, o nosso sistema de transporte urbano nao permite isso. Deviamos calcular os custos desta falta de transporte e sua desorganizacao em maputo para o sector de servicos e industria. A probabilidade de um jovem de marracuene aceitar um emprego na costa do sol, é arripiante quando olhamos para o servico de transporte.

Sao alguns exemplos do fenomeno da bicha. Entao podiamos dizer que a culpa do meu atraso no servico é do chapa. A culpa do emprego existir so na costa do sol é do chapa. O chapa100 é a nossa culpa. Falar da pobreza e nao olhar para os fenomenos que “fabricam” essa pobreza é pensar com umbigo e nao cabeca.