terça-feira, dezembro 25, 2007

homenagem a Cuvilas

Este Dezembro. Morreu baleado o coreógrafo, bailarino e professor Augusto Cuvilas. Foi morto por uma bala, vinda de um policia. Cuvilas pediu socorro, e foi socorrido roubando-lhe a vida. Digo roubando, porque esta morte representa para muitos que conviveram com Cuvilas um roubo, igual a muitos que temos sofridos nesta cidade de Maputo. Escrevi num dos post como rouba-se a vida em Maputo.
Conheci Cuvilas como um jovem de bom gosto, estas coisas discutíveis na vida, mas na arte muito apeticiveis. Maputo tem esta magia de ser uma aldeia para jovens amantes e fazedores da arte, todos inspiramo-nos debaixo do mesmo sol, da mesma acácia, do mesmo bocado de conversa e de acontecimentos artisticos que acontecem no dia-dia. Cuvilas estava sempre onde aconteciam coisas boas, a sua presenca servia de um enunciado de uma noite maravilhosa, artisticamente trabalhada, original no sentido de que emprestava de nos um singular soneto de sentidos numa multidão de olhares e movimentos. Assim, aprendi com Cuvilas a respeitar as pequenas catedrais de arte, onde religiosamento falavamos deste ego que acompanha os artistas. Um ego que tem de igual uma barriga de cegonha, cheia de fantasia, e de uma realidade que so pertencia a cada um de nos, os artistas. Nessas pequenas catedrais, aprendemos a trabalhar nossa inspiração na musica, na escrita, na dança, na pintura, na escultura, no cinema. E Cuvilas escutava mais do que falava, era esse o seu sentido de observar, para ele interessava a nossa mímica, nossos gestos intermitentes, voadores, para expressar nossa fala.
Por isso, tristemente, recordo-me dos seus espectáculos, da invulgar forma de invadir nossa realidade, com movimentos tão seguros de ritmos e pureza, da sua rasta musculosa como os braços que contornam a sombra da luz. A intensidade com que trabalhava a dança africana, mostrando a indiscutível beleza que nossas danças tem para falar do mundo. Assim conheci Cuvilas. Deixou-nos com uma quantidade de coisas para catalogar, escrever e fazer dos palcos o mundo dos vivos.

Cuvilas, vai com paz e poderemos talvez se uma bala deixar, continuar aqui nas pequenas catedrais que tu bem deixaste.

Veja nos próximos post do blogue mãos de moçambique, uma homenagem a vida e obra deste jovem bailarino e coreografo.

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