terça-feira, julho 31, 2007

la famba bicha 7

Os problemas de um pais sao abordados? onde? sao discutidos ou engolidos? alguns amigos meus vao dizer que a esteira seria o melhor lugar. Porque quem tem problema senta na esteira e quem tem poder para resolver senta-se na cadeira. O problema deixa de existir quando a cadeira desaparece. Entao para os meus botoes o problema esta na cadeira. E para o meu instinto o problema esta no homem que nela senta.
Para isto nao basta o "saber". Precisa-se fazer crer que existe uma cadeira de um homem que tem solucoes. Para alguns a cadeira resolve tudo: feitico, amor negado, dinheiro, atrasos de salario, amante perigosa, bichas, falta de transporte, malaria, SIDA, Pensar direito, um infinito de resolucoes e solucoes. O poder esta na cadeira e nao no homem, uma "descoberta" perigosa que esta a dar frutos no pais.

quarta-feira, julho 25, 2007

la famba bicha 6

"O sacrifício de Tântalo: desDOADORizar as eleições (1)" ver no blog do carlos serra, diario de um sociologo
existe dinheiro responsavel, que pensa. o metical tambem pensa, tem responsabilidade. mas de uma maneira diferente. agora que este pais "virou" um palco interessante de politica internacional. sempre foi, mesmo nos tempos do alinhado e nao alinhado. agora no tempo de exemplo de sucesso tambem sofre mutacao, da mesma maneira que roma foi substituida por bruxelas, e ilha de mocambique pela lourenco marques. a mao de dar tambem muda, porque o pedinte ficou esperto e "amante" da desculpa da preguica.
ser mendigo tem sua arte, a responsabilidade de dignificar a esmola, por isso ele pede e nao arranca. e quando o mendigo muda de tactica nao pode esquecer a esmola do passado, sera sempre um referencia para calcular a esmola do outro.
a entrada dos chineses, indianos e outros parceiros economicamente forte, na logica mundial, tambem mudou a relacao e o poder da ajuda. quando existem descobertas que na esmola tambem existe rivalidade, entao a esmola tem condicoes: pedir com respeito, guadar o carro, lavar o carro,nao comprar alchool, etc.
acho que estamos perante um braco de ferro interessante, politicamente somos os pedintes mais comprometidos com a responsabilidade da esmola, mas tecnicamente somos os mais ineficientes e irresponsaveis na responsabilidade do uso da esmola. aqui os doadores querem mostrar ate que ponto sao imprescendiveis, marteketizar o capital de ajuda e influencia politico-socioeconomica, ganha nos anos pos-guerra. para os outros a unica "plataforma" possivel para travar o fenomeno do centralismo politico e o Uno-partidarismo democratico.
entao nao estamos perante uma esmola que nao pensa. na esmola esta uma mao direita que da e uma mao esquerda que exige. um catolicismo capitalista e de poder estrategico.

sexta-feira, julho 20, 2007

txonaddos e chamboaqueados no jazz da vida III

Ibrahimo. seu nome. nao foi preciso apresentar-me. ele conhece-me. nao sei donde. talvez de uma cumplicidade anonima. Ibrahimo vende bolinhos fritos. eu vendia chamussas.
Eu vendia chamussas nos anos oitenta, eu candongueiro, no socialismo cientifico. Ibrahimo, no ano dois mil e sete, ele vendedor ambulante, no capitalismo selvagem. o tempo passa e a vontade de ser crianca continua refem de um sistema que precisa de criancas. somos anonimos.
Ibrahimo e perseguido pela policia municipal, eu era perseguido pelo miliciano. somos parentes de um destino adiado. as nossas maes deviam ser irmas, nao de sangue, mas de um ventre pobre.
Ibrahimo, nao fala muito, porque as palavras sao sempre as mesma: compra bolinhos senhor. seus olhos sao negros e cansados, como o suor que banha seu rosto. vigio-o da minha janela. a bacia de bolinhos corre ao ritmo das janelas do autocarro e das vozes gritantes que chamam pelos vendedores que assaltam o autocarro.
digo ao cobrador que vou descer nesta paragem. afinal nao vais para nacala? pergunta o cobrador boca-aberto com o cliente sem palavra. resmunguei e pago uma nota de 25 MTn.
Ja na estrada chamo pelo Ibrahimo, ele corre com a bacia de bolinhos e nao com os pes. estao pesados. a bacia devia pesar uns 10 kilos para oito anos da sua idade.

assim conheci o Ibrahimo Assane.afinal somos filhos do mesmo pais, mocambique.

la famba bicha 4

o que maputo tem de extraordinario. pergunto a mim mesmo. afinal as viagens sao para isso. questionar a nossa propria certeza. descobri que maputo tem de extraordinario uma capital. para quem vive na periferia uma capital e um olho gigante. tens o melhor angulo para calcular tudo, ate a preguica dos outros. na capital somos educados que a pressa, a falta de tempo pode ser um cartao de visitas para classificar os outros de prestaveis. e o pais desenvolve-se a volta dos prestaveis. aqueles que sabem tirar partido da pressa e da falta de tempo. um recurso esgotavel, na terra de meticais.
afinal existe um mundo onde a pressa e a falta de tempo nao interessa. lugares onde existem capitais nao extraordinarias. onde a pressa e a falta de tempo nao tem prestacao possivel. uma capital de um pais honestamente diferente. onde tudo interpreta-se na noite ou no dia. os encontros nao sao feitos na agenda que categoriza a hora, mas na arvore que oferece a sombra. aqui aprende-se a esperar ate o tempo desaparecer. esperar e mais extraordinario que a pressa. na espera namora-se o mundo que nos rodeia, a capital dos outros.

quarta-feira, julho 04, 2007

la famba bicha 3

aqui volto. nao esqueci do dever de alimentar o chapa100. mas as estradas estao cheias de surpresas e visitas. ha 20 dias estou e vou viajando por Mocambique, Cabo Delgado, Nampula e Tete. aprendi a ver o pais com seus meticais. um pais que gira, ginga, empobrece, enriquece, abandonado, amparado, amado. As vezes o mundo gira tao rapido, com metros e segundos que namoram nosso espanto: os sobreviventes do metical. mas o mundo gira. feito de pequenos globos, de gente, etnia, distrito e pequenos paises de meticais faltosos. uma ilha de vontades e sonhos.

sonhos. todos sonham, alguns mais altos, outros mais rastejantes. mas sao sonhos de muitos sonos e insonias. alguns de uma cama macia, outros de um chao duro. mas porque parar de sonhar? pergunto aos meus guias. E eles tropecam na minha pergunta. para eles o sonho nao existe assim tao humano e cheio de vontade. porque sonhar quando falta tudo? perguntam. vi que as perguntas sao importantes. nao pela resposta. mas pela falta de resposta. e o mundo gira, com sonhos emprestados, alugados ou roubados, o mundo gira. pode parecer lento, porque nao ha relogio, com prazer da vida, de transformar sonhos.

no caminho. mapea-se tudo. uma arte antropologica de estimar tudo. aquelas coisas que nos fazem rir. afinal quem chora tem que saber rir. nao existe outro alento para isso. onde falta lapis nao falta um sorriso de crianca, onde falta aspirina nao falta um acenar de boa viagem. e o pais vai nascendo assim. uma gravidez constante. nascem aos mil. e a escola ensina as dezenas. nao ha recurso neste pais capaz de acompanhar e acalentar esta barriga que nasce a cada minuto. somos um pais de criancas, numa miseria de adultos: calculamos a nossa pobreza nao nos filhos que morrem, mas que nascem.

nestes caminhos somos estrangeiros da ciencia. nao ha logica para entender as coisas. elas acontecem. porque para muitos a explicacao ja esta abencoada. nao questionar faz parte do amor que embelezamos o encontro com o outro. o sexo, a vida, o dia, a noite, a religiao, o sol, o corpo, o caminhar, o dinheiro, a troca, a compra, a escrita, o conto, o romance, a poesia, o canto, a danca, servem o misterio para explicar os fenomenos que fogem a pergunta sobre a logica das coisas. as coisas existem porque tem que existir. e assim sobrevivem no tempo. amamos as coisas por elas existem e nao porque sao inventadas e sonhadas.

e desenha-se o pais numa caixa magica e seus acessorios. a caixa magica nao tem mais nada que telenovelas e sms para quebrar nossa rotina e fazer de conta que descobrimos o outro. os acessorios, sao outras naus do vasco da gama, tem rotas diferentes mas vivem a mesma cultura, descobrir o outro como mercado e produto: Mcel e coca cola. nao ha disputa possivel, com capitalismo se namora tudo, pelado ou vestido, nao interessa. e assim ama-se um pais acreditem.