quarta-feira, julho 04, 2007

la famba bicha 3

aqui volto. nao esqueci do dever de alimentar o chapa100. mas as estradas estao cheias de surpresas e visitas. ha 20 dias estou e vou viajando por Mocambique, Cabo Delgado, Nampula e Tete. aprendi a ver o pais com seus meticais. um pais que gira, ginga, empobrece, enriquece, abandonado, amparado, amado. As vezes o mundo gira tao rapido, com metros e segundos que namoram nosso espanto: os sobreviventes do metical. mas o mundo gira. feito de pequenos globos, de gente, etnia, distrito e pequenos paises de meticais faltosos. uma ilha de vontades e sonhos.

sonhos. todos sonham, alguns mais altos, outros mais rastejantes. mas sao sonhos de muitos sonos e insonias. alguns de uma cama macia, outros de um chao duro. mas porque parar de sonhar? pergunto aos meus guias. E eles tropecam na minha pergunta. para eles o sonho nao existe assim tao humano e cheio de vontade. porque sonhar quando falta tudo? perguntam. vi que as perguntas sao importantes. nao pela resposta. mas pela falta de resposta. e o mundo gira, com sonhos emprestados, alugados ou roubados, o mundo gira. pode parecer lento, porque nao ha relogio, com prazer da vida, de transformar sonhos.

no caminho. mapea-se tudo. uma arte antropologica de estimar tudo. aquelas coisas que nos fazem rir. afinal quem chora tem que saber rir. nao existe outro alento para isso. onde falta lapis nao falta um sorriso de crianca, onde falta aspirina nao falta um acenar de boa viagem. e o pais vai nascendo assim. uma gravidez constante. nascem aos mil. e a escola ensina as dezenas. nao ha recurso neste pais capaz de acompanhar e acalentar esta barriga que nasce a cada minuto. somos um pais de criancas, numa miseria de adultos: calculamos a nossa pobreza nao nos filhos que morrem, mas que nascem.

nestes caminhos somos estrangeiros da ciencia. nao ha logica para entender as coisas. elas acontecem. porque para muitos a explicacao ja esta abencoada. nao questionar faz parte do amor que embelezamos o encontro com o outro. o sexo, a vida, o dia, a noite, a religiao, o sol, o corpo, o caminhar, o dinheiro, a troca, a compra, a escrita, o conto, o romance, a poesia, o canto, a danca, servem o misterio para explicar os fenomenos que fogem a pergunta sobre a logica das coisas. as coisas existem porque tem que existir. e assim sobrevivem no tempo. amamos as coisas por elas existem e nao porque sao inventadas e sonhadas.

e desenha-se o pais numa caixa magica e seus acessorios. a caixa magica nao tem mais nada que telenovelas e sms para quebrar nossa rotina e fazer de conta que descobrimos o outro. os acessorios, sao outras naus do vasco da gama, tem rotas diferentes mas vivem a mesma cultura, descobrir o outro como mercado e produto: Mcel e coca cola. nao ha disputa possivel, com capitalismo se namora tudo, pelado ou vestido, nao interessa. e assim ama-se um pais acreditem.


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