sexta-feira, julho 20, 2007

txonaddos e chamboaqueados no jazz da vida III

Ibrahimo. seu nome. nao foi preciso apresentar-me. ele conhece-me. nao sei donde. talvez de uma cumplicidade anonima. Ibrahimo vende bolinhos fritos. eu vendia chamussas.
Eu vendia chamussas nos anos oitenta, eu candongueiro, no socialismo cientifico. Ibrahimo, no ano dois mil e sete, ele vendedor ambulante, no capitalismo selvagem. o tempo passa e a vontade de ser crianca continua refem de um sistema que precisa de criancas. somos anonimos.
Ibrahimo e perseguido pela policia municipal, eu era perseguido pelo miliciano. somos parentes de um destino adiado. as nossas maes deviam ser irmas, nao de sangue, mas de um ventre pobre.
Ibrahimo, nao fala muito, porque as palavras sao sempre as mesma: compra bolinhos senhor. seus olhos sao negros e cansados, como o suor que banha seu rosto. vigio-o da minha janela. a bacia de bolinhos corre ao ritmo das janelas do autocarro e das vozes gritantes que chamam pelos vendedores que assaltam o autocarro.
digo ao cobrador que vou descer nesta paragem. afinal nao vais para nacala? pergunta o cobrador boca-aberto com o cliente sem palavra. resmunguei e pago uma nota de 25 MTn.
Ja na estrada chamo pelo Ibrahimo, ele corre com a bacia de bolinhos e nao com os pes. estao pesados. a bacia devia pesar uns 10 kilos para oito anos da sua idade.

assim conheci o Ibrahimo Assane.afinal somos filhos do mesmo pais, mocambique.

3 comentários:

Anónimo disse...

agora que todos têm os olhos postos na dama do bling, estao aqui um conjunto de registos interessates.

Bayano Valy disse...

muito interessante a viagem pelo tempo. hoje já te afirmaste, partindo de uma base humilde. o ibrahimo estará onde daqui há duas décadas?

chapa100 disse...

nego que o caminho percorrido por mim e percorrido pelo Ibrahimo seja "normal". mas o mundo gira a volta disso: do toleravel e do aceitavel.