domingo, novembro 25, 2007

tio patinhas e o umbigo 3

Existe arte que legitima-se fora da interacao social entre o artista e a sociedade?
O sociologo e blogista Elisio Macamo comenta no post do chapa100 com o titulo tio patinhos e o umbigo 2. E Porque sou de opiniao que este comentario, abaixo transcrito, tem a forca de revisitar as nossas certezas e especificar os nossos argumentos, faco o comentario em destaque para os passivos leitores e activos blogistas. Tentarei com mais vagar responder as perguntas dirigidas ao chapa100.
"caro chapa100, excelente texto o teu! penso que apresentas muito bem o lugar da produção artística juvenil no nosso país. não sei se concordaria contigo se utilizasses esta apresentação para contrariar os que criticam as letras da música de azagaia. como sabes, sou um deles. em tempos tentei fazer uma distinção entre desabafo e crítica social (que tu consideraste simplista sem mais elaboração) para dizer que da mesma forma que o artista precisa do seu espaço de criatividade nós os da sociologia precisamos também de manter a substância analítica dos nossos conceitos. eu estava a reagir à ideia de que o que ele canta é "crítica social". não me parece e disse porquê. continuo a pensar que é um desabafo extremamente contraproducente. mas concordo contigo que é produção artística. mas tu, de certeza, não podes estar a dizer que a produção artística nos deva deixar indiferentes. não seria isso o contrário do que tu próprio pensas ser o papel da arte? tu não podes estar a querer dizer que devemos ignorar o artista porque é artista. da mesma forma que ele pode produzir artisticamente nós também podemos interpelar essa produção. criticar é também estética, revela a nossa capacidade de sermos impressionados pela produção artística.não percebo o que tu dizes sobre o facto de serem muitas as pessoas que consomem a sua música. o que queres dizer, exactamente? que se for cada vez maior o número de pessoas que o consumirem, ele não pode estar enganado? que era preferível que fosse ignorado? abraços". Eliso Macamo

quinta-feira, novembro 22, 2007

acorda-se tarde ou o sonho atrasa?

Durante a infancia, fui dancando ao ritmo da timbila e da marimba no patio do ex-conselho executivo, no bairro de Xipamanine. Depois veio o inesperado itinerario, Baza baza e Mutxeca encheram minha adolescencia de mestria na arte de dancar e perder sentidos. Ali no espaco do Bazuca e no famoso campo do SMAE. Em seguida, a curiosidade tomou conta de mim, nos bancos do cinema Olimpia e campo kape kape, para estudar os sentidos colectivos de um chamanculo que era meu mundo, descobri nestes lugares o mestre Salimo, Ghorwane, grupo RM, Wazimbo, Nova Dimensao, Alexandre Langa, Fany Fumo, Lisboa Matavel, e outros habitantes da memoria chamanculiana. E assim os meus sentidos nunca mais pararam, descobri o dramaturgo Lino Lhongo no Bairro do aeroporto - anda ai uma publicidade, da CNCD, que anuncia um decano das artes cenicas em mocambique, nao sei qual foi o criterio para esse titulo - , Ungulani Baka khosa na marisqueira do Alto Mae e os desenhos do Idasse na revista tempo. A literatura tomou conta dos sentidos, comandou a descoberta do mundo urbano.
Todo este rabisco resulta do meu contentamento. Afinal, parece que comecou o exercicio de pensar estruturalmente na cultura. é so um comeco, mas pode valer no exercicio de produzir sentidos mais apurados da nossa relacao com a cultura e seus produtores. depois de ver a Casa Velha a cair aos bocados, distritos e cidades sem casa ou espaco cultural (ex.Xai XAi ), o ARPAC sem fundos, os museus a cairem aos bocados, pouco tempo de antena para o programa Cena Aberta, e a eliminacao do cafe cultural na radio cidade, o anunciado instituto superior de artes e cultura, tras uma alegria para muitos como eu, porque julgamos que o pais tambem merece academias mario colunas das artes e cultura.

sábado, novembro 17, 2007

Os habitantes da cidade 1



"Sou como Prince. Adoro música e mulheres. Ah, mulheres, mulheres. Se ao menos eu tivesse uma... Minha pontuação com mulheres é muito parecida com a minha conta bancária: ridícula. Na minha idade já devia ter brincado o há p’ra se brincar, ter pontuado o há p’ra se pontuar, devia planear me casar mas...". Leia e veja esta incursao critica da cultura jovem em maputo na redacao do kanino com o seu blog.


quinta-feira, novembro 15, 2007

tio patinhas e o umbigo 2

A musica e o album do azagaia esta provocando um debate aceso nos varios  círculos de interesse em moçambique. E nao é para menos, afinal azagaia nao é só objecto de adorno ou símbolo de luta, representa as varias tonalidades que caracterizam a nossa esfera publica. o mukherismo no debate.
Não há coisa mais polémica do que a relação que temos com a arte e o poder politico, com a expressao artistica e as instituicoes de control social, e ou a relação exuberante entre a arte e o poder politico. Quando estudamos a historia da arte moçambicana (desde o conto oral ate a musica contemporanea) onde enquadramos a interpretação da arte a realidade social, politica e económica em vários momentos ou períodos históricos. O periodo pré-colonial, colonial, movimentos de contestação a ocupação colonial e guerra de libertação nacional, pré-independência, pós-independência, o período da guerra civil, pós-revisão constitucional de 1990, e período pós-primeira eleicoes democráticas encontramos reacoes e dinâmicas sociais diferentes na maneira como interpretamos a arte como elemento mais atento na discrição e polemizacao das relacoes sociais na sociedade moçambicana.
Sempre questionamos a representatividade de certo objecto artístico ou expressao artistica quando estudamos relacoes sociais numa sociedade. Por isso o debate sobre o azagaia. Ate que ponto a arte do azagaia representa a realidade social que vivemos? Como é constituída a verdade na nossa sociedade? De que sociedade estamos a falar? E como podemos transferir e representar a verdade no espaço artístico? Existe uma arte que legitima-se fora da interacao social entre o artista e a sociedade? Existe uma separacao na interpretacao da expressao "mentiras de verdade" com funcao instrumental ou como expressao artistica?.

O tratamento inconsistente que damos ao registo ou papel da arte na representação das relacoes sociais resulta neste inconsistente debate sobre a representatividade dos nossos numerosos autores habitualmente conhecidos como representativos da arte Moçambicana. Uma outra questão é o valor potencial da arte pós-independencia no estudo contemporâneo da sociedade Moçambicana.

O debate que muitos tem conduzido sobre as novas tendências da musica moçambicana, especialmente produzida por jovens, é resultado desta interacao que a musica tem na interpretação de sentidos nos vários actores sociais na sociedade moçambicana. A critica, que tem sido dirigida a estes jovens músicos, caracteriza-os como uma geração de vendidos, sem valores ou identidade colectivamente aceitável. Na verdade é uma critica escondida num discurso de identidade e de moralização da sociedade. Mas o que caracteriza a musica destes jovens nao é perca da moral ou dos valores de identidade, mas o excentrismo estético e a descoberta da retórica como poder, particularmente a desconstrução do discurso do poder politico e das instituicoes de control social na sociedade.
Estas novas tendências musicais da musica jovem moçambicana, que a partir dos anos 90 desperta para muitos analistas sociais, é acompanhado de um dinamismo social que permite maior expressão a iniciativas individuais, e pluralidade dos espaços de afirmação e realização. O aumento desta escolhas é acompanhado de varias mudanças sociais que transforma muitos mocambicanos, em particular jovens, em combatentes de uma sociedade carente de realizacoes e espaços de negociação. O combatente da verdade, que caracteriza a arte dos jovens moçambicanos assenta numa irónica expressão artística, numa sátira social, a caricatura do dia-dia.

Assim como muitos artistas moçambicanos ,durante a nossa historia, estes jovens fazem na sua actividade de produzir arte uma parodia ao regime politico vigente. Estamos perante um movimento em moçambique que livremente trabalha e escolhe os temas para engajamento politico. A arte em moçambique nunca foi só uma expressão artística de momentos felizes ou de resignação, foi sempre um instrumento de angasma politico, de negociação de identidades, de interpretação do social e de instrumento de arremesso social, politico e económico dos que sempre sentiram a forca e a utilidade da arte na construção de uma sociedade assente em justica social.

Por isso aqueles que acreditam na censura, no boicote, na proibição da criação artística estão enganados na sua pretensão, a historia mostrou que nao existe a coisa mais subversiva e clandestina como a arte e a expressao artistica. Ela existe e vive sempre que exista uma sociedade, seja de escravos ou de homens livres.

Este fenómeno, peculiar em Moçambique, conseguiu produzir três categorias para proibir a liberdade de criação artista: a primeira categoria é formada por burocratas e funcionários de orgaos públicos que relaciona qualquer produção artística de pornográfica. A segunda categoria é formado políticos e funcionários de partidos políticos que caracterizam a produção artística de provocação politica. E a terceira e ultima é formada por religiosos e ideólogos que caracterizam a produção artística como anti-moral e anti-patriótica.

Esta categorizacao é problemática, porque atingiu ate a academia. Hoje antes de fazer qualquer produção artística tenho que pensar primeiro a quem ela vai agradar, se vou ter a simpatia ou antipatia do governo e alguns funcionários públicos. E porque temos esta herança heróica de criar pânico ( para mostrar servico aos que pagam para controlar os outros) e exagerar problemas ate em coisas que sao uma reacção normal numa sociedade, com o barulho e a intenção desmedida de desqualificar o trabalho produzido por azagaia, acabaram por popularizar a obra artística deste jovem que muitos compram ou escutam a musica para poder saber afinal porque esta musica produz tanto medo.




sexta-feira, novembro 09, 2007

txonados e chamboqueados no jazz da vida 4










Para tudo penso que precisamos de jazz, ate para ser txonado. Uma autentica melodia, que transborda nossa angustia sobre o quotidiano. Chamboqueados, somos todos. A cada sopro ou solo. Um casamento perfeito entre a nossa vontade de escutar tudo e de viver tudo. Jazz porque foi assim que ele surgiu, como a musica daqueles que queriam entender seu espaço e sua identidade. E nas ruas de Maputo musicamos nosso corpo e nosso andar. Jazz -amamos qualquer negocio e qualquer espera de oportunidade. Nossa identidade fabrica-se nos espaços que ocupamos para vender, amar, esperar, mijar e mendigar.
E ensinaram-nos que tudo tem negocio, um plagio ao ditado de que jazz tem alma. Qualquer coisa que move nossos sentidos absolutos e seleccionados minuciosamente ao ritmo do nosso quotidiano. Em Maputo, produz-se em cima de qualquer corpo, ritmos com instrumentos do quotidiano e na acácia escutam-se segredos de quem txonado labuta. As vezes o dinheiro nao interessa a muita gente, mas sim o quotidiano de estar ocupado, de negociar o tempo, a fome, o sorriso, e observar outros humanos.
A Vida realiza-se debaixo do sol e da lua. Faz-se amor neste contagio de estar debaixo de tudo: do preço, da cebola, da laranja, do pão, do policia camarário, da esquina, da panela chinesa, da capulana tanzaniana, do sapato nigeriano, do lendo monhé, do giro moçambicano, do 4x4 desenvolvementista, da sirene governamental.

quarta-feira, novembro 07, 2007

a personalidade do utero 4



A viagem

Tem dias


E Vida

Grande


E caminhos

Intermináveis

É um pouco

Da vida

Aquela modesta

E ciumenta

Nas viagens

O sol e a mulher

Tem outro prazer

Na fotografia que se tira


O amor vira

Uma pentax

Que vai sempre

Ao colo

Do mar