terça-feira, janeiro 29, 2008

la famba bicha

O chapa100 resolveu "estacionar" por alguns dias, para uma revisao completa do chapa100 e oferecer um descanso merecido ao seu motorista, voltarei brevemente para dar inicio a uma nova viagem, com uma nova tarifa e talvez com novas rotas. Prezados leitores e bloguistas tenham uma boa semana de trabalho.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

la famba bicha 25

Na sociedade complexa em que vivemos, somos obrigados a procurar caminhos mais fáceis para escapar das teias sociais e economicas que promovem a opressão. O caminho e as opções que escolhemos não resultam de um debate mais-ou-menos inclusivo. Por debate inclusivo entendo ser aquele (debate) que apresenta razões validas para intervir. O ministro da saúde faz das visitas relâmpago, a única solução politica para o mau atendimento hospitalar. (veja qui no blog de patricio langa)

Este exercício do ministro empurra-nos para a questão das perguntas simples, que resultam em respostas simples. Por exemplo, seguindo a lógica da solução relâmpago podíamos chegar a conclusão de que em Moçambique as pessoas adoecem de malária, apanham sífilis, embriagam-se e envolvem-se em escaramuças que resultam em mortes, que a gravidez na adolescência, resulta do mau atendimento hospitalar.
Como foi que chegamos a esta conclusão de que o problema da saúde em Moçambique resulta do mau atendimento hospitalar? E o que entendemos por atendimento hospital? A boa educação do pessoal de saúde ou a providência de cuidados hospitalares com um standard mínimo de serviços clínicos?

A resposta para estas questões significaria negar as perguntas simples. Em sociedades complexas os problemas sociais são ampliados pela ineficiência de serviços públicos e também pela “herança” política de um estado paternalista, a acção governativa devia preocupar-se com a formulação de perguntas sobre a legitimidade e a eficiência dos meios escolhidos para atingir os fins ou metas politicas ambicionadas. (assunto em debate no blog do Elisio Macamo).


Este exercício de visitas relâmpago, três anos passados, não se mostra como o meio/instrumento eficiente e legitimo para resolver os problemas de que o sistema nacional de saúde enferma. Este exercício do ministro, permitiu acima de tudo identificar que os problemas que a saúde enfrenta são estruturais, devido a sua repetição sistematica (entenda-se repititividade) e a forma regular como algumas práticas são “toleráveis” em quase todas as unidades de saúde do pais. O papel que esperamos daqueles que tem responsabilidade política para que estes problemas acima identificados sejam resolvidos não é de agir de forma histérica e incontestável, mas formular perguntas que hierarcamente permitem devolver a responsabilidade política e técnico-profissional a aqueles que são pagos e treinados para que o sistema nacional de saúde funcione de forma regular e eficiente para o bem da saúde do cidadão.

Existe aqui um ponto de manipulação perigoso, que precisamos ter cuidado quando lidamos com serviços públicos, especialmente a saúde. Partir do pressuposto de que todo o utente do serviço de saúde, tem um conhecimento activo sobre a enfermidade e procedimentos do diagnóstico clínico que são efectuados nas unidades hospitalares pode revelar-se falso e contraproducente, porque mais do que um exercício racional de empoderar o utente revela-se como um apelo emocional a aqueles que esperam dos quadros da saúde um serviço profissional e tecnicamente satisfatório. A satisfação do utente, com muita probalidade, fica visível só no momento em que ele distancia-se da condição de doente e por meio disso fica socialmente e ontologicamente “saudável”.

Então, em minha humilde opiniao, são várias as perguntas que a saúde precisa fazer. Fazer essas perguntas não significa transferir a responsabilidade política de alguns para a ineficiência técnica de alguns profissionais. Significa que as próximas perguntas devem evitar o apelo aos dilemas sociais e ao chamamento emocional que ate agora tem caracterizado o “exercício relâmpago” mas sim o apelo a perguntas que possibilitam uma análise crítica e que despertem confidencialidade em soluções racionais a curto e longo prazo.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

la famba bicha 23 - perguntar para perguntar




1 - As crianças aprendem sobre o mundo e seus fenómenos perguntando. Para elas tudo começa com uma pergunta. Quando falta-lhes palavras para questionar , usam as mãos para satisfazerem a sua curiosidade. Para elas as perguntas devem ter uma resposta, mesmo não estando preparadas para compreender as premissas e a plausibilidade dos nossos argumentos.
AS crianças, poucas vezes, justificam o seu constante exercicio de perguntar com respostas tais como: so perguntei por perguntar. Um pais sem perguntas é obra dos proprios cidadãos que negam a natureza das perguntas que os fez adultos.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

os habitantes da cidade 12

As folhas     amaciam
Provocam a mistura
O contorno da avenida
Asfalto que se pisa
Odor que se sente.
As folhas    nao se importam
Tempesteadas no alcatrão
Correm o esgoto
Escutam as serenatas        os divórcios do tempo.
Correm
Voam
Correm    correm
Indagam os passos rápidos
As ocasiões cochichadas
No sussuro latente do vizinho embriagado.
Às folhas         pergunta-se
Narra-se a perigrinacao do fiel amante
Dos escritos bocabertos do escrivão
E a voz do politico as resguardam
No tempo da aurora.
As folhas      sabem          questionam o soluço
Sabem da rima
Dos seios da Joana         minha companheira.
Em passos
Apressados                   destimidos
Correm
Voam
Correm    correm          as folhas
Lentamento chegam
Anunciam o alcoice
Aos amavios desta tela.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

os habitantes da cidade 7



" Eu quero conhecer-te melhor,

minha África profunda e imortal...

Quero descobrir-te para alem

do mero e estafado azul

do teu céu transparente e tropical, para alem dos lugares

comuns

com que te disfarçam aqueles que nao te amam

e em ti vêem apenas degrau a mais para escalar!".

Excertos do Poema com o titulo "quero conhecer-te África", de Noemia de Sousa - Sangue Negro. Maputo: AEMO, 2001).

sexta-feira, janeiro 18, 2008

os habitantes da cidade 8

Um dos livros mais emocionantes na literatura Mocambicana é " O regresso do morto", do escritor e professor Suleiman Cassamo. Quando leio sobre o Quenia, sou obrigado a fazer uma viagem aos textos deste escritor, pela dose de humor e ficcao que este escritor atribui as nossas relacoes humanas no quotidiano de fazer um pais. E o Quenia, vai regressar "morto"? ou vive como alguem que foi esquecido pelo tempo e que deixou-se esquecer na distancia da historia e de busca de sobrevivencia?. Magaiça nao sao so as pessoas, mas os paises tambem.
Leia aqui sobre o tema da actualidade em Africa: Quenia. texto de Mukoma Wa Ngugi, publicado na revista chimurenga, onde colaboro ha muitos anos.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

la famba bicha 21 - perguntar para perguntar



"Cheias no centro do país Consumou-se o drama!

O PROGNÓSTICO meteorológico efectuado em Setembro pela SARCOF, uma entidade regional de análise e previsão do tempo, já antevia para a época chuvosa 2007/2008 a ocorrência, no geral, de chuvas acima do normal entre Outubro e Março. Para o caso do nosso país, este indicativo era incidente para o centro durante este período e para Maputo, o norte durante o presente trimestre". Quarta-Feira, 16 de Janeiro de 2008:: Notícias

Quantas perguntas deviam ser construidas com este lead? alguem tem respostas para tantas duvidas?  porque tudo faz parte deste exercicio de perguntar por perguntar, um pais afunda-se, na leveza das perguntas.  

terça-feira, janeiro 15, 2008

la famba bicha 20 - perguntar para perguntar

Em qualquer sociedade a busca de soluções para problemas sociais, devia começar pelas perguntas. As perguntas mais adequadas deviam ser aquelas que ajudam-nos a formular melhor a pergunta. Podíamos chamar a esse exercício de perguntar por perguntar. No quotidiano, na conversa despropositada, somos confrontados com estas perguntas por perguntar. Quando pergunto aos meus colegas o motivo para algumas perguntas a mim dirigidas, respondem-me evasivamente: só perguntei por perguntar.

Existe aqui uma explicação para este exercício de perguntar por perguntar? Será mesmo um exercício de aperfeiçoar a pergunta? Ou será que ainda não temos a certeza da dúvida que nos apoquenta? Será que para formular uma pergunta temos que ter uma dúvida? E essa dúvida precisa de perguntas para ser exteriorizada?

Alguns amigos quando abordados com esta questão, na sua maioria foram unânimes em dizer que ninguém pergunta só por perguntar. Quem faz perguntas quer algo, se não, há gato escondido. Mas respondo que talvez as minhas respostas não foram conclusivas, por isso formularam outras perguntas/duvidas na "cabeça" do indivíduo perguntador. Então há gato escondido, não na resposta do indivíduo perguntador, mas no exercício que nos leva a formular uma pergunta para ser uma pergunta.

sábado, janeiro 12, 2008

os habitantes da cidade 5




A nossa relação com o meio ambiente, é influenciada na sua maioria por contos, romances, histórias, documentários e filmes que “consumimos” no dia dia. A concepção sobre o mundo animal foi “elaborada” no jardim Zoológico de Maputo, ali no Bairro de Jardim. O “macaco João” foi o melhor interlocutor desta descoberta do mundo animal, com a sua “anatomia” e espectáculo aprendi a desvendar minhas crenças com dezenas de colegas meus da escola primária. Com a descoberta do “macaco João” o nosso critério de avaliação comportamento a social era logo denominado de “macaquito João”, o indisciplinado e palhaço.
Mas do que ser um palhaço e indisciplinado o macaco joão era a personagem que habitava o nosso imaginário sobre o outro mundo, da selva. A selva e a floresta sem o “macaco joão” não eram lugares engraçados, que animam. “O macaco joão”, mesmo enjaulado, fazia piruetas e saltos mortais, que a nós outros (humanos) eram proibidos e severamente punidos na escola. Imitar o macaco João era “dar liberdade” aos nossos movimentos e categoricamente ir contra os bons “mandamentos” da disciplina escolar.

Ainda na adolescência assisti ao filme King Kong (1933), que foi um grande fenómeno cinematográfico, inspirado no primeiro “conhecimento” humano sobre o gorila. King Kong não é mais do que uma ampliação exagerada de um gorila, apresentado como um “bicho” e não animal. Uma imagem que foi muitas vezes documentada por vários exploradores das florestas africanas. A maioria dos escritos dos exploradores, o gorila é descrito como um “animal” de se ter medo e respeito. E como sabem os escritos da maioria destes exploradores respondiam a impulsos cognitivos e emocionais, onde os exageros emocionais foram uma constante que acabaram por influenciar o método e investigação científica, na exploração de África. Na base desses exageros a imagem do gorila foi exportada como um animal carnívoro, predador.
Um desses exageros, era a famosa história de que o gorila teria violado sexualmente a companheira do “bom intencionado explorador”, para a compaixão do mundo e a diabolizacão do gorila. O primeiro filme King Kong é produzido na sua maioria na base destes exageros, que também passaram a questionar as minhas certezas sobre o “macaco João”.

Na última produção cinematográfica do king Kong (2005) já somos confrontados com outro argumento que não tem como objectivo mostrar não só os exageros emocionais do “explorador” mas sim a presenca de um apelo emocional aos espectadores. E esta nova produção aparece numa altura em que tenho a minha anterior crenca desmontada e o “macaco joão” morto.
Mas o exagero emocional do “bem-intencionado” explorador teve consequências trágicas não só na exploração cinematográfica do gorila como também no tratamento que foi reservado a este “animal” em algumas sociedades. Documenta-se que o primeiro gorila que chegou aos Estados Unidos da América foi “alimentado” com base numa dieta obrigatória de carne vermelha fresca, afinal um “bicho” tão feio como este só podia ser carnívoro e predador. Não tinham informação de que este “animal” é vegetariano, assim como milhões de “humanos” que hoje identificam-se como vegetarianos.

Então já devem imaginar como foram tratados os primeiros “habitantes” gorilas nos E.U.A., muitos morreram de complicações estomacais e outras complicações de saúde provocadas pela diabolizacão documentada pelos “exploradores” e da influencia da documentação cinematográfica no imaginário de muita gente sobre o meio selvagem e seus habitantes.
O gorila, na foto que acompanha este texto, obrigou-me a revisitar a memória que tinha do “macaco joão” e explorar a forma clássica como o mundo de cinema influência nossas crenças sobre os outros. Assim funcionam os fantasmas de Ruanda.

terça-feira, janeiro 08, 2008

amor de zinco 7

A água desce
cresce
aos poucos levanta
entra
dentro do ventre
entre
as paredes do útero:
outro
dévio da vida,
ainda
desce percorre
corre.
Devagar o óvulo
tolo
engrandece o ventre
adere
ao convívio da célula
que pula
e junto da água
desagua
do ventre outro espaço
possesso,
ouve-se o eclampse
é outra narrativa que se
aborta.



In jorge matine, "Abutres de Amor" ( Ed. Moura pinto, porto, 1999)

segunda-feira, janeiro 07, 2008

os habitantes da cidade 4

Em Kigali

Existem países e cidades em que viajamos devagar, porque não podemos caminhar rápido, a memória impede-nos. Dizem que a história não só usa livros como mensageiros, mas também usa fantasmas. Os fantasmas nasceram da história, como uma lenda para lembrar aos homens do seu passado, não saem da furna só para pregar-nos um susto mas para recordar das nossas obrigações com o futuro, os vivos. Do fantasma aprendemos a ser videntes, adivinhos e porque não curandeiros. Neste pais, viajo devagar, porque perscruto o fantasma que acena, do balão alto como uma gávea num navio afundando, para que sempre aprenda a esgrimir os pergaminhos da história.

Lendo J.Craveirinha no seu Babalaze das Hienas(1997, aemo):

Forrobodó

Ao forrobodó dos tiroteios
E chispar das catanas
Eles devem ter gritado.

Da viatura em chamas
O eco dormiu nos braços do asfalto
Seu mais pesado sono.

Do forrobodó um quase nada:

Apenas o acre odor dos restos
No tempo grelhado.

Assim escreveu sobre nós, este poeta da Mafalala, aqui em Kigali fico pensando o que teria registado poeticamente Craveirinha para conversar com estes fantasmas.

domingo, janeiro 06, 2008

2008 e a critica: O Cromatismo do Pensamento



As vezes, somos confrontados com situações que desafiam a capacidade argumentativa, que justificam as opções que tomamos. Em nome da verdade, esses confrontos “argumentativos” tornaram-se mais religiosos e fanaticamente elaborados, que deitam a baixo qualquer que seja a outra verdade que possa existir.

Herdamos da História esta maneira de analisar os nossos argumentos com o princípio de “preto ou branco”. E a nossa esfera pública foi educada dentro deste princípio histórico de procura de pragmatismo para a acção colectiva. E de acordo com os vários comentários que tenho assistido na imprensa e nos vários palcos de debate, parece que a nossa esfera pública precisa de sair deste princípio “bi-color” de argumentação para um princípio “multi-color”, se quisermos transformar os espaços de debate e de exercício de cidadania mais inclusivo.
Importa referir que esta herança histórica de interpretação de fenómenos sociais, económicos, e ideológicos, no pragmatismo de “preto ou branco”, foi muitas vezes imposta pela ordem mundial durante muitos anos. Até aproximadamente 19 anos atrás o mundo estava dividido em blocos económicos, sociais e ideológicos, traduzidos numa fórmula simples de “nós” e os “outros”.

Que características, a nossa esfera pública, tem desta visão de “preto ou branco”?

Os factos históricos permitem identificar dois períodos distintos de organização social, económica e ideológica da sociedade. O período que vai da independência até a reforma constitucional de 1990 e o período que vai das primeiras eleições multipartidárias até ao presente. O que mais importa aqui, é analisar a transição de um período para outro, a mudança de valores, das teses ideológicas, a noção do estado e de governo, da relação entre o cidadão e a sociedade, do espaço público e da crítica, etc. Mas de uma forma dogmática a necessidade de construir e identificar inimigos ficou. E foi patente verificar como esta herança ficou entre nós, quando analisamos os pronunciamentos e as acções dos actores políticos e não só, durante a primeira campanha eleitoral e a convivência social e económica dos moçambicanos no espaço público durante o período que se seguiu às primeiras eleições gerais. Na esfera pública este fenómeno foi notável na maneira como eram categorizadas as nossas posições públicas sobre qualquer que seja o assunto, se não concordasse com políticas do governo significava que estava ligado à oposição. A esfera pública estava e ainda está influenciada por este princípio de “tomar posição” e não da capacidade de argumentar e debater. Uma situação, no mínimo absurda.

E como resultado desta “cultura ideológica” de tomar posições, assistimos hoje este debate dogmático sobre a posição que um académico deve tomar no debate público e no exercício da ciência. E parece-me que as escolhas que são oferecidas por alguns “iluminados” intelectuais e académicos baseiam-se no princípio do “preto ou branco”. O princípio do “preto ou branco” resulta desta capacidade argumentativa de que o mundo é feito de pragmatismos e posições. O mesmo aplica-se a esta visão dogmática para categorizar o exercício intelectual como sendo da esquerda ou da direita.

Esta maneira de categorizar o pensamento, a ideia, o sonho, a vida, a palavra, dos moçambicanos é muito injusta e antiquada. Não só periga o espaço de debate, como também o futuro do país. A ideia do avanço tecnológico de substituir a imagem a preto e branco para uma imagem colorida (multicolor) no aparelho televisor, resulta desta vontade humana em reconhecer a diversidade e pluralidade das nossas acções e escolhas (por exemplo: nas cores).

Quem não gosta de ver os documentários a preto e branco sobre Samora Machel ou Eduardo Mondlane? Acho que todos queremos ver durante um tempo, mas depois queremos ver os documentários multicolores do “Ver Mocambique”. E todo este exercício traduz-se no debate público. Ver as coisas no princípio preto ou branco traduz-se no esquema “nós” versus “nossos inimigos”, no debate sobre a coisa pública. A intolerância que alguns tem para com: a sociedade civil; a classe política; a transparência em políticas públicas; a protecção ao meio ambiente; a oposição; o governo; o activismo académico, a associação de profissionais, resulta de um pensamento dogmático que impede a livre participação dos moçambicanos no “mercado de ideias”.

E mesmo aqueles que preferem o princípio de “preto ou branco” na compreensão das relações sociais, académicas e económicas dos moçambicanos, tem que saber que não detêm o monopólio do espaço público. Porque esse princípio serve a uma fórmula objectiva e subjectiva de interpretar o mundo, e não tem nada de pragmatismo e metódico, tal como pretendem fazer-nos acreditar. E mais do que promover uma cultura de debate e crítica, promove-se uma “crítica-fobia” nos moçambicanos.

Existe aqui um ponto crucial que vai levar muito tempo para ser compreendido e documentado. Este ponto relaciona-se com a nossa história, porque os interesses de Moçambique na formulação de uma ideologia não nos levam a lado algum. A História mostrou-nos que o interesse dos moçambicanos não pode ser:
1) construído na base de ideologias que mal estudamos e conhecemos;
2) com base em fundamentos académicos que excluem o direito ao exercício da cidadania;
3) negando o desafio da modernidade que está em reconhecer o papel importante da diversidade e da interdisciplinaridade do campo cientifico e
4) a complexidade das instituições e dos problemas sociais e económicos servem de oportunidade para continuamente produzir ideias e crítica no espaço público.

A mudança da imagem a preto e branco para a imagem colorida hoje é reconhecida como um dos importantes símbolos da modernidade. E isto aplica-se a nossa sociedade em relação aos dois períodos históricos acima referenciados. Negar a modernidade no espaço público, significa negar a complexidade e aceitar o mundo de ideias simples “preto ou branco”. E esta maneira dogmática de pensar no meio académico, no espaço público, na classe política, na sociedade civil; poderá ser fatal para nós como um país pobre, num mundo político e economicamente complexo. Porque a realidade não é só multicolor é também de cabeças duras.

terça-feira, janeiro 01, 2008

2008 e a critica .

1- O ano já tem muito de velho. Como bem dizem os Moçambicanos: camarão que dorme a onda leva. E ninguém ousa dormir, porque a vida não deixa, o coração bombeia, o cérebro "enche-se" de oxigénio e pensa. E essa magica bolha de oxigénio, quem diria, que do "ar" que respiramos e inspiramos pensamos na mais íntima, bela e complicada "coisa" para entreter nossa preguiça do primeiro dia do ano. O ano já tem muito de velho. Acordamos para um novo ano e já somos cidadãos de uma integração regional, mas ainda não sabemos se estamos integrados pela boca ou pelo nariz. Afinal a integração regional depende de papilas gustativas na língua e de receptores de odores no olfacto. E não é uma questão de gostos e cheiros?

2- E a critica fica “aonde” no primeiro dia do ano? Pensava com a minha preguiça. “A critica é importante” parece que ouvi isto varias vezes. Não no mesmo lugar. Os lugares mudam-se, mas fica-se com o hábito. Dentro destas belas reflexões que tenho saboreado na blogsfera Moçambicana, descobri que tudo não passa de gostos e cheiros. A crítica é isso, saber reflectir e falar dos teus cheiros e gostos. A medicina ensinou-me que na superfície da língua existem dezenas de papilas gustativas, cujas células sensoriais percebem os quatro sabores primários: 1) amargo, (2) azedo ou ácido, (3) salgado e (4) doce. E quando misturados produzem sabores distintos. Assim, aprendi na blogsfera, com ajuda da língua, a classificar as várias reflexões usando o esquema de quatro sabores primários.

3 – Tudo é uma questão de sabores e cheiros. Estamos integrados. E na crítica e no debate. Resolvi, reflectir sobre a ideologia dos sabores e cheiros. Sim! Porque não? Afinal a esquerda e ou a direita também resultam desta aprendizagem para categorizar sabores e cheiros. Como humanos podemos detectar 20 000 odores diferentes. A maneira com que cultivamos esses odores, pode conduzir-nos a varias categorizações, que não cabem só na categoria de esquerda ou de direita. Mas deve haver ai um segredo, como animais. Porque somos apesar de andarmos só com duas patas, animais. Estes utilizam esta capacidade do olfacto para se relacionarem com o meio e comunicarem com outros seres vivos, podem emitir vários sinais para deixar rastos, marcar território, definir hierarquia social, o sexo ou a disponibilidade de reprodução. Ser de esquerda ou de direita para animais não passa de uma orientação, de espaço do que de ideologia.

4 – Nos que crescemos num subúrbio, onde o nosso território, ou hierarquia social, estava delimitado por um zinco, descobrimos que os cheiros pertencem a muitos, mas o sabor a alguns. Aprendemos com o olfacto, a mapear o mundo a nossa volta. O cheiro que saia da casa da/o vizinha/o permitia-nos definir a hierarquia social, a disponibilidade emocional e financeira do vizinho. Com o cheiro podia instrumentalmente categoriza-los em “folgados” e em “desenrascados”. E na base de cheiros muitos tornaram-se videntes, feiticeiros, “os que tem”, e “os que não tem”.

5- Estamos integrados. A ideologia é isso. Estar ligado a “isso”. Existem varias explicações e definições de ideologia. A esquerda ou direita, não passam de uma busca constante a “isso”. “Isso” ninguém vai-te explicar direito o que significa, porque ninguém sabe, faz parte dos 20 000 odores diferentes que tanto nos humanos e animas mamíferos e insectos procuramos. Uma bússola, para orientar nosso mundo, conhecer melhor a tua ou teu vizinha/o, se ela é “folgada” ou “desenrascada”.

6- Os meus companheiros da blogsfera seleccionarão figuras do ano, “fiquei” em pânico, porque não tenho critérios credíveis para seleccionar a figura do ano. Mandei os critérios a... e resolvi faze-lo também. Eis os nomeados: Carlos Serra (rebenta minas! Faz-me lembrar os militares-condutores de camiões militares no tempo de guerra civil, não havia tempo para aprender inversao de marcha com os famosos “madjedjes”, para frente é que era o caminho, o guru do estudo do social em Moçambique); Elísio Macamo (ser académico e intelectual não é brincadeira não! Com carapau ou repolho, ou frango do Brasil, ciência é ciência); Patrício Langa (para tudo precisamos de ser irreverentes e dispostos para o debate, um dos melhores jovens intelectuais e académicos que Moçambique tem); Ilídio Macia (um dos melhores curandeiros da modernidade e com mais actualizações o pais sai a ganhar); Egídio Vaz (o curandeiro da modernidade numero 1, o melhor activista bloguista a moçambicana); Bayano Valy ( o curandeiro da modernidade numero 2, afinal a liberdade de expressão não e tudo, precisa-se de jornalismo serio); Eugenio Chimbutana (um dos melhores curandeiros da modernidade, o melhor suplemento económico da blogsfera); Ouri pota (o cafe cultural na blogsfera, depois de Marcelo Panguana, Nataniel Ngomane, Felimone Meigos, Guilherme Mussane, Rogério Manjate, aqui esta um jornalismo cultural promissor); Stayleir Marroquim (o curandeiro da modernidade numero 4, o legislador que se cuide, existe gente aqui que pensa e argumenta); Basilio Muhate (com mocambiqueonline, uma contribuição valiosa ao debate de ideias e convívio de diferenças), Opais online e canal de Moçambique (o melhor que se fez em edição online de noticias); Rogerio sitoe (pelas suas opiniões na rubrica conjunturas, no jornal noticias); Radio Moçambique - emissores provinciais (pelo serviço que presta as comunidades rurais, com informação e entretenimento em línguas nacionais, um bem publico precioso e indispensável para o pais); Café-bar Gil Vicente e núcleo de arte (o ponto de referencia das artes em Maputo); Parque nacional das Quirimbas (o turismo comunitário esta a mudar a vida e a face da ilha do IBO, um conceito de turismo que pode mudar a vida de muitos moçambicanos); Banda kakana (como banda de afro-jazz, sempre brindou-nos com o melhor que se produz de talento jovem na praça); Mutumbela Gogo (voltou a ser o santuário do bom teatro); Desportivo de Maputo (o melhor clube da actualidade, um santuário de talentos, com uma das  melhores escola de jovens); Liga dos direitos Humanos (um trabalho excelente de assistência jurídica e paralegal a moçambicanos nas comunidades urbana e periurbana de Moçambique, uma equipe extraordinária de jovens profissionais); fundação agha khan (um trabalho excelente de apoio a centros de saúde e escolas primarias na melhoria da qualidade de serviços em alguns distritos de Cabo Delgado);

8 – e o ano comeca, feliz novo ano a todos leitores do chapa100.