sexta-feira, janeiro 25, 2008

la famba bicha 25

Na sociedade complexa em que vivemos, somos obrigados a procurar caminhos mais fáceis para escapar das teias sociais e economicas que promovem a opressão. O caminho e as opções que escolhemos não resultam de um debate mais-ou-menos inclusivo. Por debate inclusivo entendo ser aquele (debate) que apresenta razões validas para intervir. O ministro da saúde faz das visitas relâmpago, a única solução politica para o mau atendimento hospitalar. (veja qui no blog de patricio langa)

Este exercício do ministro empurra-nos para a questão das perguntas simples, que resultam em respostas simples. Por exemplo, seguindo a lógica da solução relâmpago podíamos chegar a conclusão de que em Moçambique as pessoas adoecem de malária, apanham sífilis, embriagam-se e envolvem-se em escaramuças que resultam em mortes, que a gravidez na adolescência, resulta do mau atendimento hospitalar.
Como foi que chegamos a esta conclusão de que o problema da saúde em Moçambique resulta do mau atendimento hospitalar? E o que entendemos por atendimento hospital? A boa educação do pessoal de saúde ou a providência de cuidados hospitalares com um standard mínimo de serviços clínicos?

A resposta para estas questões significaria negar as perguntas simples. Em sociedades complexas os problemas sociais são ampliados pela ineficiência de serviços públicos e também pela “herança” política de um estado paternalista, a acção governativa devia preocupar-se com a formulação de perguntas sobre a legitimidade e a eficiência dos meios escolhidos para atingir os fins ou metas politicas ambicionadas. (assunto em debate no blog do Elisio Macamo).


Este exercício de visitas relâmpago, três anos passados, não se mostra como o meio/instrumento eficiente e legitimo para resolver os problemas de que o sistema nacional de saúde enferma. Este exercício do ministro, permitiu acima de tudo identificar que os problemas que a saúde enfrenta são estruturais, devido a sua repetição sistematica (entenda-se repititividade) e a forma regular como algumas práticas são “toleráveis” em quase todas as unidades de saúde do pais. O papel que esperamos daqueles que tem responsabilidade política para que estes problemas acima identificados sejam resolvidos não é de agir de forma histérica e incontestável, mas formular perguntas que hierarcamente permitem devolver a responsabilidade política e técnico-profissional a aqueles que são pagos e treinados para que o sistema nacional de saúde funcione de forma regular e eficiente para o bem da saúde do cidadão.

Existe aqui um ponto de manipulação perigoso, que precisamos ter cuidado quando lidamos com serviços públicos, especialmente a saúde. Partir do pressuposto de que todo o utente do serviço de saúde, tem um conhecimento activo sobre a enfermidade e procedimentos do diagnóstico clínico que são efectuados nas unidades hospitalares pode revelar-se falso e contraproducente, porque mais do que um exercício racional de empoderar o utente revela-se como um apelo emocional a aqueles que esperam dos quadros da saúde um serviço profissional e tecnicamente satisfatório. A satisfação do utente, com muita probalidade, fica visível só no momento em que ele distancia-se da condição de doente e por meio disso fica socialmente e ontologicamente “saudável”.

Então, em minha humilde opiniao, são várias as perguntas que a saúde precisa fazer. Fazer essas perguntas não significa transferir a responsabilidade política de alguns para a ineficiência técnica de alguns profissionais. Significa que as próximas perguntas devem evitar o apelo aos dilemas sociais e ao chamamento emocional que ate agora tem caracterizado o “exercício relâmpago” mas sim o apelo a perguntas que possibilitam uma análise crítica e que despertem confidencialidade em soluções racionais a curto e longo prazo.

5 comentários:

Elísio Macamo disse...

bravo! eu acho que este tipo de reflexão como a que tu fazes aqui contribui imenso para melhorar as coisas. é deste tipo de interpelação que os políticos precisam. é este tipo de responsabilidade que recai sobre nós como cidadãos. boas perguntas, jorge! não te canses.

chapa100 disse...

elisio! obrigado pelo comentario! e ha mais: primeiro, nao entendo porque a primeira ministra e o presidente da republica acham isto normal. segundo, os juristas tinham que nos dizer se o regulamento e codigo de etica dos funcionarios publicos permite o abuso a integridade dos funcionarios publicos.

Porque uma sociedade condena as practicas laborais perpetradas na golden roses e nao as practicas perpetradas com visitas relampago? so perguntas, elisio mais uma vez obrigado pelo comentario.

Elísio Macamo disse...

também não sei porque eles acham isto normal. laguém já lhes disse isso? existe uma esfera pública que discute estas coisas a esse nível mais profundo e honesto para além da habitual troca de insultos entre as partes políticas? não devemos descurar o peso da cultura política dentro da qual muitos dos nossos dirigentes políticos se socializaram. eles não precisam de ter maldade original para acharem isto normal; pode ser o efeito de socialização. agora, eu acredito que uma interpelação como a que tu fazes é mais susceptível de capturar a sua atenção para eles pelo menos reflectirem. gosto da ligação que fazes com a golden roses. o que há de comum nessas duas coisas? porque não fazemos a articulação? são essas questões que me parecem desaparecer completamente na nossa pressa de "criticar". por isso, avante!

Mário Nunes disse...

Gostaria de vos convidar a todos a visualizar gravuras e postais antigos de Moçambique no Kafe Kultura.
Em http://kafekultura.blogspot.com

chapa100 disse...

obrigado mario nunes, vou la aparecer para diliciar-me das gravuras e postais.