sábado, janeiro 12, 2008

os habitantes da cidade 5




A nossa relação com o meio ambiente, é influenciada na sua maioria por contos, romances, histórias, documentários e filmes que “consumimos” no dia dia. A concepção sobre o mundo animal foi “elaborada” no jardim Zoológico de Maputo, ali no Bairro de Jardim. O “macaco João” foi o melhor interlocutor desta descoberta do mundo animal, com a sua “anatomia” e espectáculo aprendi a desvendar minhas crenças com dezenas de colegas meus da escola primária. Com a descoberta do “macaco João” o nosso critério de avaliação comportamento a social era logo denominado de “macaquito João”, o indisciplinado e palhaço.
Mas do que ser um palhaço e indisciplinado o macaco joão era a personagem que habitava o nosso imaginário sobre o outro mundo, da selva. A selva e a floresta sem o “macaco joão” não eram lugares engraçados, que animam. “O macaco joão”, mesmo enjaulado, fazia piruetas e saltos mortais, que a nós outros (humanos) eram proibidos e severamente punidos na escola. Imitar o macaco João era “dar liberdade” aos nossos movimentos e categoricamente ir contra os bons “mandamentos” da disciplina escolar.

Ainda na adolescência assisti ao filme King Kong (1933), que foi um grande fenómeno cinematográfico, inspirado no primeiro “conhecimento” humano sobre o gorila. King Kong não é mais do que uma ampliação exagerada de um gorila, apresentado como um “bicho” e não animal. Uma imagem que foi muitas vezes documentada por vários exploradores das florestas africanas. A maioria dos escritos dos exploradores, o gorila é descrito como um “animal” de se ter medo e respeito. E como sabem os escritos da maioria destes exploradores respondiam a impulsos cognitivos e emocionais, onde os exageros emocionais foram uma constante que acabaram por influenciar o método e investigação científica, na exploração de África. Na base desses exageros a imagem do gorila foi exportada como um animal carnívoro, predador.
Um desses exageros, era a famosa história de que o gorila teria violado sexualmente a companheira do “bom intencionado explorador”, para a compaixão do mundo e a diabolizacão do gorila. O primeiro filme King Kong é produzido na sua maioria na base destes exageros, que também passaram a questionar as minhas certezas sobre o “macaco João”.

Na última produção cinematográfica do king Kong (2005) já somos confrontados com outro argumento que não tem como objectivo mostrar não só os exageros emocionais do “explorador” mas sim a presenca de um apelo emocional aos espectadores. E esta nova produção aparece numa altura em que tenho a minha anterior crenca desmontada e o “macaco joão” morto.
Mas o exagero emocional do “bem-intencionado” explorador teve consequências trágicas não só na exploração cinematográfica do gorila como também no tratamento que foi reservado a este “animal” em algumas sociedades. Documenta-se que o primeiro gorila que chegou aos Estados Unidos da América foi “alimentado” com base numa dieta obrigatória de carne vermelha fresca, afinal um “bicho” tão feio como este só podia ser carnívoro e predador. Não tinham informação de que este “animal” é vegetariano, assim como milhões de “humanos” que hoje identificam-se como vegetarianos.

Então já devem imaginar como foram tratados os primeiros “habitantes” gorilas nos E.U.A., muitos morreram de complicações estomacais e outras complicações de saúde provocadas pela diabolizacão documentada pelos “exploradores” e da influencia da documentação cinematográfica no imaginário de muita gente sobre o meio selvagem e seus habitantes.
O gorila, na foto que acompanha este texto, obrigou-me a revisitar a memória que tinha do “macaco joão” e explorar a forma clássica como o mundo de cinema influência nossas crenças sobre os outros. Assim funcionam os fantasmas de Ruanda.

4 comentários:

Aguiar disse...

é isso aí, Africa, essa eterna incompreendida...

chapa100 disse...

ola aguiar! africa eterna incompreendida? no afecto ou no pensamento?

Aguiar disse...

Existe pensamento sem afecto??

chapa100 disse...

aguiar, quanto ao afecto herdamos geneticamente ou cultivamos?