Em Kigali
Existem países e cidades em que viajamos devagar, porque não podemos caminhar rápido, a memória impede-nos. Dizem que a história não só usa livros como mensageiros, mas também usa fantasmas. Os fantasmas nasceram da história, como uma lenda para lembrar aos homens do seu passado, não saem da furna só para pregar-nos um susto mas para recordar das nossas obrigações com o futuro, os vivos. Do fantasma aprendemos a ser videntes, adivinhos e porque não curandeiros. Neste pais, viajo devagar, porque perscruto o fantasma que acena, do balão alto como uma gávea num navio afundando, para que sempre aprenda a esgrimir os pergaminhos da história.
Lendo J.Craveirinha no seu Babalaze das Hienas(1997, aemo):
Forrobodó
Ao forrobodó dos tiroteios
E chispar das catanas
Eles devem ter gritado.
Da viatura em chamas
O eco dormiu nos braços do asfalto
Seu mais pesado sono.
Do forrobodó um quase nada:
Apenas o acre odor dos restos
No tempo grelhado.
Assim escreveu sobre nós, este poeta da Mafalala, aqui em Kigali fico pensando o que teria registado poeticamente Craveirinha para conversar com estes fantasmas.
Existem países e cidades em que viajamos devagar, porque não podemos caminhar rápido, a memória impede-nos. Dizem que a história não só usa livros como mensageiros, mas também usa fantasmas. Os fantasmas nasceram da história, como uma lenda para lembrar aos homens do seu passado, não saem da furna só para pregar-nos um susto mas para recordar das nossas obrigações com o futuro, os vivos. Do fantasma aprendemos a ser videntes, adivinhos e porque não curandeiros. Neste pais, viajo devagar, porque perscruto o fantasma que acena, do balão alto como uma gávea num navio afundando, para que sempre aprenda a esgrimir os pergaminhos da história.
Lendo J.Craveirinha no seu Babalaze das Hienas(1997, aemo):
Forrobodó
Ao forrobodó dos tiroteios
E chispar das catanas
Eles devem ter gritado.
Da viatura em chamas
O eco dormiu nos braços do asfalto
Seu mais pesado sono.
Do forrobodó um quase nada:
Apenas o acre odor dos restos
No tempo grelhado.
Assim escreveu sobre nós, este poeta da Mafalala, aqui em Kigali fico pensando o que teria registado poeticamente Craveirinha para conversar com estes fantasmas.
2 comentários:
Matine, wa famba! espero que os fantasmas de Kigali não te causem pertubações ou mesmo traumas. Não te queremos ver um zombie. A propósito disso, como vão as feridas por ai? o tribunal comunal está a funcionar? como é que o processo de reconciliação nacional é encarado? houve desenvolvimento depois que o genocídio acabou?
um abração
bayano, tenho vindo a este pais desde 2000, com muita frequencia. mas ate agora so tenho perguntas e nao respostas. de la para ca as coisas mudaram p melhor outras nao, isso desde 2000, mas aqui esta uma governacao que em algumas coisas tem pontos interessantes, por exemplo a reforma do sector publico, uma velocidade impressionante comparando com alguns paises africanos, mas tem muitas coisas ligadas a instituicoes democraticas que apresentam-se com muitas interrogacoes, tambem faz parte do processo de aprendizagem e faltam exemplos por perto para estudar e aprender, um problema de africa. para uma populacao de 7.5 milhoes em 1997 eles tinham 50 juizes recrutados, 20 procuradores, e 50 advogados, com uma populacao prisional de 130.000 pessoas suspeita de ter participado no genocidio. Os gacacas ( que podemos chamar de tribunais tradicionais) ajuradam muito, mas o investimento que o governo fez para treinar e recrutar reforcar o sistema judiciario foi impressionante (contando com tanto dinheiro disponivel). so 9 % dos juizes tem o primeiro grau universitario, ou escola secundaria com suplementar de direito, conseguiram ate 2002 julgar 7000 casos relacionados com genocidio ( e todo este horror funcionou no cenario dos nossos linchamento, uma cumplicidade popular, que torna dificil reunir provas, e ter uma policia capaz e com meio para investigacao criminal para este tipo casos, dificil).
ate 2005 existiam nas prisoes aguardando julgamentos 80.000 suspeitos de participado no genocidio, e mais de 8000 outros suspeitos e acusados de outros tipos de crimes juntaram-se a esta populacao prisional.
isto mostra as varias contradicoes estruturais que este pais enfrenta, olhando para o lado social, muita coisa foi feita para uma reconciliacao e o relancamento economico, o nivel de execucao de politicas publicas impressiona-me muito. quando estive na etiopia achei que os etiopes estavam melhores na reforma e na expansao do servicos publicos. chego a conclusao que nao, o ruanda esta um tigre, os meus colegas ruandeses dizem que deve-se ao estilo e disciplina militar no estilo de governo do presidente ruandes, que tudo aqui funciona numa cadeia de comando militar, pode ser, ha indicadores no sistema de execucao que mostram isso, mas nao acho que sejam suficientes para chegar-se a essa conclusao assim tao rapido, porque a eritreia fez algumas reformas de forma impressionante seguindo um modelo diferente.
mas um pais lindo, isto parece as as montanhas dos libombos, sem gorilas.
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