sexta-feira, fevereiro 23, 2007

...1

Faltam dois dias. um mundo parece pequeno, o mapa encolheu. Sobraram ombros e algumas lagrimas. Porque chorar? disse Lewane. A vida em dois dias mudou a direcao da ruga. Estamos mais velhos. A idade pesa? disse Machaia. Porque ter idade se em dois dias vamos pesar uma idade que nao temos? Lewane comenta para nao chorar. Uma mulher nao pode chorar por coisinhas na vida, quem chora no parto nao chora mais. Nascer uma vida, pode magoar o mundo, chorar como cheia, tive 6 filhos. Lewane grita.
Lembro que a nossa aldeia foi esquecida ha muitos anos. A cheias levou nossa vida. Mas como sempre ficaram alguns trapos. Nos e algum gado. trapos? indagava Machaia. Trapinhos, acho eu, somos muito fracos para fazer uma manta, Lewane abracou Machaze, unico bebe que o jacare deixou nadar. Machaze e nossa verdade, os espiritos deixam esperanca, disse Lewane. Mas como esparanca Lewane? a nossa vida passou rapido neste mundo que encolheu, nossa vida esta mais leve que a folha arrancada pela corrente da agua. Temos so dois dias. A agua vai derrubar o tecto.
Os espiritos nao fizeram nada, quando o tecto cair, vamos morrer todos. Machaia nao hesitava um comentario com frio que assobiava nossas vozes. Eramos fantasmas para gritar. gritar? nos as mulheres ja gritamos ha muito tempo, quando te dei 6 filhos que o rio levou. Nasci para alimentar estes crocodilos e a ti Machaia. estas palavras ouvi toda minha vida, as mulheres nunca esquecem. para que esquecer? solucova Lewane.
(in Lua das cheias)

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

re-mao

Uma mao

de mao
grande
de mar

uma mao

de mao
com mar
grande

uma mao

de medo
fugiu para longe
grande da vida

uma mao

de mao
onde o mar
nao mede a mao.


Uma mao

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

chimuenges

A mente
do demente

era dos tenentes
senhores de guerra

a mente
de guerra

era sirene
rara na machamba do tenente

era tomate
numa mina

a mente
de guerra

dos tenentes
que escrevem memoria

da mente do demente

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

com oxigenio para SU.

acredito no farol. acredito tambem na lampada. o farol e grande, ilumina o mundo. a lampada, ilumina o passo, o canto que espreito, pequenas coisas que busco. o farol e sereno, silencioso, o fim do mar. a lampada e o comeco de tudo, barulhento. o farol e o olho da terra, o fim do perdido. a lampada e o braco que procura algo, a procura do perdido. o farol e para o navegante.a lampada para o escondido. todos somos guiados pela luz. no silencio e no medo das coisas.

sábado, fevereiro 03, 2007

falar-da-gravida

Cena I

Escrever pode ser uma dor. Pequena. Do nosso tamanho. A dor que tem ruído, faz tudo que lhe apetece.
As vezes tenho a sensação que poderia viajar com ela. com a dor.

Cena II

Por muito tempo acreditei que podia descrever a dor. Torna-la comum, igual as crónicas de viagem, falar de pequenos momentos.


Cena III

Penso. Contigo. Na dor.
Na melhor maneira de escrever-te
Enviar uma mensagem
Da noite que é neste mar

Cena IV

Vou escrever como pediste. Sabes que custa escrever? Imagina. O parto. Sou da gravidez de 12 meses, de ventre ambulante . Todas as mulheres foram minhas mães, uma por hora, outras por dias, aquelas que queriam mais tempo não pude dá-las, afinal queria ser justo com o ventre delas.

Cena V

A porta. na Dor.
Enorme e barulhenta
Amistosa e distraída
A Porta
Torta
E Talhada
A ferro ou a madeira
Tem a maldade
Da porta. da dor.

Dor do mar



Cena VI

Aquelas que toda noite fui sonho delas, queriam que o parto fosse com elas, por vezes encontrei barrigas quentes, dóceis e bonitas. Eram barrigas de cegonhas para a minha mãe.


Cena VII

Umas eram estúpidas
Davam-me nomes esquisitos
Falaram da tristeza, a que
Me espera
Fora do ventre

Cena VIII

Aprendi
Que a barriga tem a beleza do mar
Serve para tudo
Da vergonha ao orgulho

Cena IX

Contam que na noite o mar não dorme. Nunca se perguntou a razão à noite.
O mar não aceitou o meu convite ao sono. Agora dou-lhe razão, o sono deixou de ser milagroso: ao se acordar os corpos continuam famintos e a religião domina a esperança, as lágrimas continuam a salgar o mar.

praga sem mar

a Lilia Momple

Imagina.


Que hoje o dia tem direito
a queixar-se.

Falar
como homem
aos homens.

Dizer
o que lhe vai
no seu dia prolongado
na mentira da noite.

Imagina.

Que tu serias
o confessionario.

Onde
o dia
de cócoras
contaria a verdade
para que sexo
o dia pende.

Para o mar?

Imagina.