quarta-feira, dezembro 19, 2007

La famba bicha 19 - pha karingana 1

O contacto social requer competências, alguns chamam de habilidades sociais. Vezes ha que confundimos essa competência como um dom, uma característica de génios. Numa definição patológica, uma pessoa é normal quando consegue iniciar um contacto e terminar-lo, comunicar, dialogar, exigir, pedir ajuda, oferecer ajuda, procurar trabalho, iniciar relacoes, iniciar uma família, cuidar e educar crianças/filhos. Todas estas características do homem normal requerem competências que nao sao adquiridas de forma automática, aprendemos sobre elas imitando os vários modelos sociais que connosco interagem na vida de criança e adolescência. Quando adulto, assumindo vários papeis sociais, descobrimos que muita destas competências que nos fazem individuos normais nao estão presentes em nos. descobrimos que somos deficitários, incompletos ou mesmo ausentes.O deficit destas competências influencia a nossa relação com o mundo social. E como adultos procuramos remediar ou adicionar o que falta das nossas competências. Por isso a sociedade "inteligente" inventou e proporciona vários cursos especializados de aumento e aprendizagem de competências sociais, biológicas e económicas deficitárias.

A questão que colocamos, na vivência do mundo adulto, relaciona-se com a nossa competência para dizer certas coisas, transformar coisas "intimas" em publicas. E ai a questão coloca-se: como comunicar o nosso pensamento, o seu sentido humano, a nossa fala pessoal em um pensamento dialogante, capaz de expressar e comunicar sobre "outros" e sobre as "coisas" numa esfera publica como a nossa. E porque que algum pensamento dialogante pode ser uma critica social e outro "pensamento" um desabafo? que competências a nossa sociedade oferece para que produzamos diálogos fora do senso comum? E este exercício de dialogar deve resultar num eclipse da razão? E como identificamos verdades simples, sera so verdade que constroi-se no processo dialogante?

Com esta pequena reflexão nao pretendo negar a existência de outros espaços “avançados” onde certas verdades e competências argumentativas sao produzidas e rotuladas. O que intrigou a minha reflexão foi o exercício rápido como alguns círculos aceitaram a critica feita ao álbum e as letras do azagaia como um desabafo. Durante a adolescência o desabafo foi aprendido como um exercício de libertação espiritual e físico. Estava ausente qualquer teoria de ciência terapêutica ou psicoanalitica que sustentasse o recurso ao desabafo para libertar-se de algo. O desabafo podia ser um exercício de demonstração de competências argumentativas ruidosas, como também servia para mostrar uma socialização de competências sociais para aliviar ou libertar "magoas" sociais. O exercício de desabafar na sua maioria, estava ligado a um ritual bem interiorizado de libertação de sentimentos negativos, intermitentes ou bloqueadores da realização espiritual ou material.

E neste exercício foram criadas varias categorizacoes do desabafo, o desabafo bom e ou o desabafo mau. Os critérios para esta categorização nao foram escolhidos dentro de um pensamento terapêutico, ou de realização individual. Aqui nao interessava a libertação do individuo, mas os espaços e as pessoas atingidas pelo desabafo. Esta categorização surgiu nao como um exercício neutro de categorização subjectiva, mas como uma expansão dos mecanismos de controle social, incluindo seus rituais e instituicoes, para espaços ate então considerados íntimos, individuais. Esta categorização também vem legitimar a entrada deste exercício individual de desabafar para espaços públicos.
Como mencionado anteriormente, a maneira como lidamos com as coisas do fórum individual e publico, mostra o nível de competências que temos. A competência realiza-se na maneira como armamos o espaço cognitivo e emocional do individuo. O desabafo, nao escapa a influencia destes dois espaços. Então o desabafo, nao resulta de espaços neutros, ele responde a chamamentos emocionais ou cognitivos. O próximo post talvez, reflectiremos sobre os espaços emocionais, que temos na nossa esfera publica. Uma relação humorística e picante caracteriza a maneira como descrevemos “o produto dialogante” resultante do casamento entre o espaço cognitivo e espaço emocional. Assistimos a expressoes do "quotidiano dialogante", tais como: este individuo espalha-se muito, nao diz coisas com coisas, falou bem mais saiu da estrada, pela boca morre o peixe, etc.

6 comentários:

Elísio Macamo disse...

caro jorge, interessante reflexão a tua. ofereces-nos uma perspectiva diferente sobre o desabafo com dicas importantes sobre como contextualizar o conceito. julgo que isso é importante. tenho apenas dois reparos à espera da continuação. o primeiro diz respeito a uma frase que me parece incorrecta no teu texto. escreves sobre "o exercício rápido como alguns círculos aceitaram a crítica feita ao álbum e às letras do azagaia como um desabafo". acho que isto não faz muito sentido. queres dizer "o exercício rápido feito por alguns círculos que criticaram a letra e álbum do azagaia como desabafo"? penso que assim estaria mais correcto e eu próprio já me sentiria visado no grupo dos que fizeram um exercício rápido. o segundo reparo é em relação ao que dizes na elaboração do teu pensamento sobre o desabafo. curiosamente, dizes exactamente o que eu próprio escrevi sobre o desabafo, suas condições de possibilidade e contexto. usas a linguagem da tua área científica, mas não tenho como não estar de acordo e não ver a confluência de ideias. estou muito ansioso em ver como terminas a reflexão! boas festas!

chapa100 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
chapa100 disse...

caro elisio! repare que o debate sobre o "desabfo" ou "critica social" nao circunscreveu-se so a blogsfera. foi interessante ver como este assunto chegou ate aos circulos da comunidade rap e musica jovem em maputo. troquei varias impressoes com alguns destes jovens, e como eles aceitaram a ideia do desabafo sem questionar as premisas para isso. mas voltarei com a segunda parte da reflexao.obrigado pelo comentario e boas festas.

Aguiar disse...

interessante . esperava o proximo post, como tarda, decedi colocar aqui, Prof, minhas duvidas. Sendo o desabafo, ele proprio, revestido de uma conotação negativa, o que é que destingue o bom do mau desabafo? O desabafo é bom ou mau consoante o receptor, consoante as pessoas e os espaços atingidos? O desabafo passa a ser bom ou mau, nao pela exteriorizaçoa de um pensamento individual, mas pelo impacto que esse mesmo pensamento pode ter sobre o outro (espaços e as pessoas) ? o desabafo é bom ou mau, segundo o pto de vista do emissor ou do receptor?

Tera o individuo que desabafa, competencias para controlar o impacto social desse mesmo desabafo na esfera publica? Sera que poder-se-ia colocar a mesma questao para aquele que critica?

chapa100 disse...

aguiar! muitas questoes para serem reflectidas. o adjectivo de bom ou mau, vem de uma construcao social, que em relacao ao desabafo, pelo menos discutido tem a funcao instrumental. nao penso que o desabafo seja emocianal, mas o individuo pode estar a responder a estimulos emocionais para desabafar, mas ha recursos estilisticos que acima de tudo invocam rotulacoes emocianais para quem define o desabafo.
mas como deves ter reparado, o desabafo sobre varias influencias de tolerancia, que muitas vezes tem haver com a nossa cultura linguistica e de escuta. tema bastante complicado.
acho que ambos, o receptor e emissor, tem mecanismos diferentes decategorizacao do desabafo. existem espacos de negociacao que permitem nao sobre o desabafo, o conotativo, a subjectividade.

aguiar, eu nao sou professor.
boas festas

chapa100 disse...

aguiar! acabei escrevendo aqui coisa complicada e de dificil compreensao, essas coisas de teclados, as minhas sinceras desculpas. um feliz ano