quinta-feira, junho 21, 2007

O mundo, com duas vidas e um jovem I

I
Como jovens somos muitas vezes alertados sobre o risco do mundo exterior e não do mundo interior que corre dentro de nós. Porque a nossa socialização implica mapear o mundo a nossa volta e seus actores e não mapear o pensamento, o sentimento, a duvida, a pergunta que vive dentro de nos? Será que existe no mundo exterior realizações superiores ao mundo que gira dentro de nos? Será que o mundo exterior tem mais certezas do que o mundo interior?


II

Para responder as questões colocadas acima teríamos que analisar a importância da prioridade que o mundo exterior tem em relação ao mundo interior. E não é porque o mundo exterior seja por natureza prioritário em relação ao mundo interior na vida do adolescente e jovem. Na sociedade moçambicana de hoje, os jovens são mais falados pela sua virtude de ser jovem, de ser um grupo etário maioritário, de ser um actor económico imprescindível numa economia de consumo e competitiva, de ser um eleitor em abundância, de ser o espelho atento das transformações sócio-económicas, a cobaia da crise de certezas sociais individuais e colectivas da sociedade moçambicana e muitas outras “coisas” que o jovem é obrigado a mapear para sobreviver no mundo exterior.

III

Em suma o mundo exterior pede aos jovens uma postura de compromisso e responsabilidade. E será que o nosso mundo interior de jovens que é caracterizado por uma vontade de viver com mais intensidade os questionamentos, discernimentos, entendimentos, sonhos, não mereça a mesma prioridade para mapear o mundo?

IV

Em Moçambique a juventude sempre foi abordada como um actor social e político diferenciado, capaz de influenciar processos de transformação social, que pela sua característica estava estreitamento ligado ao engajamento politico ideológico de mapear o mundo exterior. Onde o engajamento do jovem era definido pela capacidade de participar em projectos de mudanças sociais para a construção de um homem novo (moçambicano). Era assim ate poucos anos (atrás), e hoje?

V

Hoje a construção do homem novo terá que olhar para o mundo interior do jovem, que é caracterizado por reflexões pessoais que interferem na construção de sua identidade. Onde esta identidade é resultado da relação entre seus pares e experiências individuais que resultam de um processo continuo de busca, encontros, desencontros, inseguranças, curiosidades, medos, confusões, indefinições, mudanças, crises e crescimentos, que no mundo actual tem que ter a mesma prioridade que mapear o mundo exterior. E não será esta a melhor altura para mapear o mundo interior do jovem se queremos devolver ao jovem a capacidade de ser portador de mudança e construtor do homem novo de hoje, não?

1 comentário:

Patricio Langa disse...

Oi. J.M.
Interessante esta incursão sobre está categoria social tão apelada e apelativa.
Talvez por isso mesmo fosse pertinente começar pela desconstrução Gadamerdiana da própria categoria. O que é ser jovem, mesmo?