segunda-feira, outubro 01, 2007

a andorinha do Mugabe

1 - quando menino caçava andorinhas. melhor tentava caçar. comi tantas andorinhas. dos que conseguiam caçar. sempre fui o menos sortudo com a fisga. eu menino de chamanculo, eles refugiados de guerra da renamo, vindos de vilankulo. a minha esperteza estava no português que conhecia para enganar o guarda da escola primaria da Munhuana, para pegar a andorinha no telhado. assim foi, quase uma infância inteira.
2 - foi com a malta de caçar andorinha que descobriram-me para desportista. não sei de onde surgiu a ideia, o boato ou a crença, de que uma andorinha come-se correndo e sem olhar para trás. assim com a minha gang fazíamos um sprint de mais de 400 metros mastigando a carne assada, de andorinha. nunca questionamos o porque do ritual. afinal em vilanculos era assim. na maderazinco de chamanculo era assim. e assim fui descoberto pelo hoje Cameraman da TVM, antigo treinador da escola de jogadores do clube Muhafil.
3 - e a crença ocupou outros espaços de afirmação. justifiquei que seria convocado para a equipa principal se continuasse a correr e mastigando andorinha. nunca questionei se a corrida e o domínio da bola estava na técnica e nos treinos. era a adolescência das coisas, a crenca da invencibilidade e da perfeicao estava assente da magica forma de uma andorinha que explorava o ceu e o horizonte dos espacos nunca por nos conhecidos. joguei mal ou bem, a andorinha funcionou e disfuncionou, como qualquer outra crença.
4 - fui para o desportivo, afinal era ali no equipamento andorinha que podia ganhar. a crença ganhava outros valores. era preciso ter ambição. o técnico Uzaras, desmistificou a andorinha: "voce corre muito e joga como uma mulher". desde quando uma andorinha joga como uma mulher? será que já não mastigo bem a andorinha? meu amigo de vilanculos segredou-me que teriamos que correr de costas, ao estilo marcha-atras, e fomos correr nos eucaliptos, hoje edifícios da TVM e companhia mata-eucaliptos-distroi-barreiras.
5 - correndo e fintando eucaliptos, somos descobertos pelo mister do maxaquene. a andorinha não tinha clube de preferência pelos vistos. assim ficamos inscritos na equipe de atletismo do maxaquene. como explicar ao mister que só podemos correr mastigando uma andorinha assada? como explicar que correndo as voltas na pista de atletismo, no campo de maxaquene, nao satisfaz a nossa crença?
6 - esta "lembrança" de uma infância quase infalível vem aproposito do debate sobre o Mugabe e Zimbabwe. deve existir uma andorinha na crença do mugabe sobre a maratona politica. mastigando sentado, para livrar-nos de rugas e de pensar o futuro. a andorinha foi o machimbombo de muitas paragens, a viagem dos sonhos mastigados numa crença de adolescente. para mugabe a crença de um poder infalível, coexiste numa crença de adulto, mastigando um pais numa corrida ao faz-de-contas.

5 comentários:

Anónimo disse...

No comments, meu irmão! Muito bem exposta esta tese, e faz-me pensar que talvez muitos dos nossos problemas baseiam-se nesta crença na teoria da andorinha! Solução? Comer andorinha correndo de costas, e fintando eucaliptos! Super!

chapa100 disse...

mana melita! a andorinha esta no imaginario de todos. sera que nossa elite percebera que andorinha voa,que existe uma diferenca de principio e de ciencia entre um aviao e uma andorinha?

Anónimo disse...

A ver vamos, jorge. a ver vamos... com o andar do recenseamento... alguns já devem estar a preparar a sua andorinha... "se ela voa, nós ganhamos os votos, lógico!"

mãos disse...

Hei mano a andorinha...E ali no campo do ferroviário com as nosssas fisgas(xibalakatsa)com o canhú a ser a bala, fisga um, fisga dois, nada...nos dias de chuva e depois um sol, pegavamos conjunto de ramos de arvores para caçar as andorinhas que a 180 Km/hora voavam aos zig zag...chegamos até a comprar andorinha pra correr e ser a Lurdes de Hoje, mas nada...No dia que andorinha descobrir que ela esta no nosso imaginário, vão voar no mar...

chapa100 disse...

xibalakatsa, so tu para preservar o meu imaginario.