CENTENAS de munícipes de Maputo afluíram ontem em massa ao “Maputo Shopping Centre”, com objectivo particular de testemunhar a abertura ao público daquele que é o maior centro comercial até então construído no país, e com capitais totalmente moçambicanos, num investimento do Grupo MBS, liderado pelo empresário Momade Bachir Sulemane. Maputo, Sábado, 27 de Outubro de 2007:: Notícias
1- Escolhi o nome chapa100 para este blog motivado por razoes de estética e de convivência social. Com andar do tempo, fui obrigado reconhecer este amantismo exuberante com a memoria e o tempo que dispensamos a coisas na vida. As vezes somos obrigados a deixar que os outros tomem conta de nos, "empacotem" nossa liberdade com outros sentidos. Alguns mais violentos e outros mais amiúdes. O mais caricato é a nossa serena condição de leva-tudo, já nao basta que consumamos tudo. Tudo aquilo que nos olhos nao cabe para contemplar e na língua chega para saborear. Somos vendedores do nosso próprio destino, os mukheristas da indiferença.
Escrevo isto porque nasceu mais um cogumelo gigante em Maputo. Em muitas sociedades é símbolo da pós-modernidade. Anos e anos comparávamos o nosso atraso em relação a África do Sul, usando este cogumelo como indicador. A diferenca entre este cogumelo e o baoba de pemba, nao esta na sua gigantesca oponencia, mas na sua urbana e desumana vontade de entreter o futuro. O cogumelo anuncia um futuro, que só se manifesta dentro dele. Só que este futuro precisa de bilhete de passagem, Tao moderno quanto isso. Nao há boleia para o futuro, assim como chapa100 nao da boleia, paga e chega ao destino ou espera uma nova e quase que inexistente chance de negociar um nova viagem para o futuro.
O baoba de pemba, esse reserva agua, frutos, medicina, sombra, tudo que no deserto faz um futuro. A sua oponencia é Tao humana, como a nossa vontade de viver mais e ter memorias de uma Pemba presente e indicador da nossa real existência.
2 - O que inquieta-me com este cogumelo, é a sua real vontade de ser urbano. O mais problemático é o silencio dos que requisitam e facilitam a existência destes cogumelos. Quando este shopping Center foi planificado onde estavam os arquitectos e urbanistas cá da praca. Onde estavam os economistas, cientistas sociais cá da praça. Imagino que estavam nos escritórios ou nos blogs como eu. Um vicio perigoso esse, o nosso. Que impacto este cogumelo vai ter nos pequenos empreendedores de lojas na baixa e outros lojistas de Maputo? Com o trafico e o engarrafamento que temos na baixa, o que este cogumelo vem acrescentar de mais valia ali na baixa? sabemos ate agora que o parque automóvel em Maputo, da baixa em particular, utiliza/ocupa espaços que deviam ser dispensados para lazer ou para o peão, e com este cogumelo quantos espaços de parqueamento serão criados, que permitem a devolução dos espaços de lazer para os citadinos de Maputo? Esta historia de que este cogumelo vai criar nao sei quantos postos de trabalho nao pega, que relação existe entre os postos de trabalho que ele cria e os que ele destroi no pequeno comerciante? E nao temos informação se este cogumelo, como muitos outros que em nome de investimento moderno, recebeu isenção fiscal? e se recebeu isenção fiscal quem vai pagar os passeios destruídos pelos carros que galgam, ocupam os espaços reservados a lazer, o tempo perdido no engarrafamento naquela zona da baixa? erário publico. eu digo os meus impostos.
3 - Não estou contra cogumelos do futuro, mas este futuro que nao trás qualidade de vida aos citadinos de Maputo nao anima. O exemplo que temos da forma desordenada como sao feitas as coisas, o prédio cimpor no cruzamento entre a 24 de Julho e a Julius Nyerere, roubou o espaço de respiração e estética daquela cintura, o mesmo aconteceu com o prédio dos chineses e outro nao acabado ali em frente ao tribunal supremo, aquele espaço podia ter sido usado para reflorestamento e protecção de barreiras, anexando aquilo ao jardim botânico, o nosso Tunduru. A outra coisa que nunca entendi, é a mania do deixa andar que permitiu a construção de condomínios e supermercado na zona do costa do sol, sem estudar a questão de mobilidade, saneamento, vias de acesso, protecao a orla marítima, (sem contar com a destruição de mangais e dunas). E o cumulo, a nossa elite do deixa-estragar esta la todo o fim de semana, com um parque de viaturas insustentável para aquela zona, disputando o espaço com o peão, banhista e a vegetação/arvores ali existente. Nao é altura de interditar a circulacao de viaturas aos fins de semana para aquela zona?.
3- entao manos, tambem preferem cogumelos e nao boabas? nos bairros perifericos de maputo ja temos cogumelinhos, uma chatice desse desenvolvimento futurista.
7 comentários:
nem mais ... é o "shoppingcentrismo" vitorioso
Boa Matine. Também podias questionar sobre a relação promíscua que existe entre políticos e homens de negócios; que influência têm os homens de negócios sobre os políticos; será que a nossa burguesia emergente (mais políticos e homens de negócios) tem consciência de gestão urbana e sustentável; será que não sabiam que se estava a destruír o mangal quando se autorizou a construção de casas e supermercado na Costa do Sol; como um MBS pode agora estar a requerer que lhe seja cedido o bairro da marinha para a construção de um parque de estacionamento; enfim... cogitações
Bravo, caro chapa!! Excelente intervenção!!! É disto que o País precisa.
jpt, é sim vitorioso, a muito custo.
Bayano, levantas questoes importantes, mas que custa responder. faltam alguns instrumentos juridicos e muita capacidade tecnica daqueles que deviam velar por esta desordem. as ligacoes de que falas, servem uma economia especulativa e sem sustentabilidade a longo prazo.um atento engraxador na esfera publica disse que precisamos de criar riqueza, entenda-se burguesia nacional, so depois podemos tratar direito e ordem. o direito e a ordem so sera necessaria quando chegar o tempo de legalizar a riqueza do crime e da desordem. esta desordem é tao intencional como a mao invisivel do mercado que sustenta estas teorias, medievais.
ilidio, interessante saber que o pais precisa de poucas coisas. interessante questao para a esfera publica, o que é que este pais nao precisa? o que é que esta a mais neste pais? as ciencias biomedicas, sao capazes de dizer hoje, o que nao precisamos para viver.
Matine, deveria ter-te contemplado nos prémios Mo do Elísio - Prémio Mo de Desabafo. Mas é mesmo disso que precisamos. Alguém tem de gritar até ficar rouco, como diz Machado da Graça. Gosto e acredito na máxima de que água mole em pedra dura......
Um dia, we shall overcome
Bayano, os premios Mo elisio sao de grande estima sociologica. e eu da sociologia tenho medo.
Enviar um comentário