sexta-feira, abril 25, 2008

Ouri pota: ndana ndzoleeeee. Chapa100: ndzoleeee yanga

Hoje o motorista deste chapa100 completa mais um ano de vida. A idade tem seu peso, como qualquer pedaço de coisas úteis, a pedra por exemplo. Eu, tenho o peso dos sentidos difíceis, tão exímios para amar e perscruta-los como o búzio de um mar vermelho. E se o mar é isso então em plena constante amo a vida.
A idade tem o peso da pedra. De um rochedo carinhoso e forte para contemplar as ondas. Engana-se quem da pedra esquiva-se, não há como fugir dela, só podemos ampara-la. Nesta quase agradável noite, numa cidade tranquila e invadida pelo silêncio de um ventre africano, contemplo a sua opulência num sarau melancólico. O ventre devia ter sido a lua que na pedra casou, com olhos grandes de quem admira a exuberancia da vida marinha e que na procura do aroma, de uma orquidea, descobriu as montanhas de rubi.
Os caminhos fazem-se moendo verbos, mesmo quando andamos tão certos de um lugar que conhecemos. Por isso festejamos a idade, como a montanha de rubi, porque estamos cegos no verbo que conduziu-nos a pedra. A minha idade pesa por isso, mas devia ser mais leve, para no mar balouçar e na pedra esquivar. Não, não foi assim. Foi preciso ampara-la, com o peso dos caminhos percorridos e aprender amar a sua opulência. Da idade não se esquiva, ampara-se como o ventre africano, de olhos grandes, que na pedra do ex-miguel bombarda deu a luz. E nasci a 25 de Abril.

quarta-feira, abril 16, 2008

terça-feira, abril 15, 2008

os habitantes da cidade 6

1- Longe do blogue o mundo não para, afinal a literatura nha mocambicana mostra isso, o celular vai se mocambicanizando, enquanto Mugabe estuda a democracia, e devia estudar mesmo, outros dizem que mal aprendeu dos outros, todos nós sabemos. E a blogues fera activa perde o Eugénio, afinal tudo é uma questão de esperar pelo ano novo, enquanto uns ficam mais velhos, outros renascem. A vida é um evangelho, afinal" Everyone has the power for greatness...

2- A mania do mundo, esta no mundo. Isso mesmo. O mundo tem mania porque existe um lugar perverso que se chama mundo. Tão redondo como a nossa própria existência. Não é uma conclusão, são perguntas ainda mal formuladas. Hoje, depois de uma jornada académica, fui saborear o sol no parque. Quando aqui faz sol, depois de prolongado tédio e frio, o mundo tem outra mania. Fica mais rebelde na forma redonda de viver dos seus habitantes. Sentei-me na primeira sombra que encontrei, porque o território do sol estava ocupado, com uma multidão, na sua maioria feminina, bronzeando-se. Como dizia o poeta-critico Marcelino na aemo, as mulheres são como lulas, no sol brilham e na água...

Na verdade o dia sentou-se por cima do meu olho. O cansaço. Passei quatro horas moderando uma míni conferência académica, entre estudantes vindos da Coreia , Franca, Canada, Rússia e Republica Checa. Gostaria de ter certeza de que a conferência não foi um two man show, um “se-calhar-entendi” entre os participantes, o moderador e tradutor. Eu sempre pensei que tivesse nascido num chamanculo errado nesta coisa de línguas, mas hoje posso dizer que o mundo nasceu no lugar errado. O mundo devia ter nascido no chamanculo, o pulmão do mundo não seria a amazónia mas o kapekape, ex-centro associativos dos negros seria a biblioteca alexandrina, o mercado do Diamantino seria o wall street, o Vaticano seria a nossa missão são josé no chamanculo c, o cinema olympia a Meca, a rua dos irmãos Roby o Titicaca, a avenida do trabalho o serengeti e como bons chamanculianos podíamos emprestar o nosso New Orleans-french quarter ao bairro de xipamanine e o taj mahal ao bairro da mafalala, assim a língua do chamanculo seria a biblia de boas coisas para entender o mundo... Mas não, deus quis fazer das suas, e assim nasceu este mundo redondo.

Mas é a língua que torna o mundo redondo. Não posso culpar a deus. Nesta sombra que protege o corpo do sol e não a imaginação que percorre o mundo, vou respirando na fadiga e na mania do mundo. De quando em vez, distraio-me, nas mulheres que se untam com creme, imagino que o sol nunca viu um animal tão teimoso como o homem. A Cleópatra preferiu leite e deu no-que-deu.

terça-feira, abril 08, 2008

la famba bicha 31 - perguntar para perguntar

Os dealers da adrenalina

Talvez devia ser o título do próximo texto, com uma produção clandestina, num teatro amador. Sim afinal, tudo faz-se às escondidas, principalmente quando se trata de abordar alguns tabus. Mas os dealers da adrenalina não querem falar do tabu, não precisam porque isso exige um esforço intelectual que muitos dealers não tem.

Na infância falávamos de fofoqueiros, afinal a mercadoria era a língua e o olho de tudo ver e falar. Uma espécie de câmara mutante, num mundo onde tudo permuta entre prazeres de uma boa conversa e uma vontade para excitar o outro. O ouvido do homem era fraco, não a carne, o corpo no seu todo. A orelha e o lábio, eram companheiros da rua, de ver e ouvir num aparato de segredos. Mas será que era o aparato em si, ou a palavra é que nunca suportou uma prisão?

Mas o tempo encarregou-se de tudo. O homem já não é a prisão da palavra. E a palavra já não brinca às escondidas, não há mais escuro no corpo para esconder o verbo. Onde a língua e o olho dormitavam no escuro, nasceu outra mercadoria: a emoção. Hoje não temos mais fofoqueiros para entreter a palavra, mas dealers cujo trabalho é produzir adrenalina em massa. Um fordismo que as vezes transcende a mecânica do corpo e da razao.

Não serão o dzukuta e o pandza, os dealers da adrenalina? Talvez. E os forwardores do video do ziqo? Os agitadores da mao invisivel? Os que querem o povo no poder? Os que vivem do combate a pobreza absoluta? Não serão tambem os bloguistas dealers da adrenalina? Talvez.

sexta-feira, abril 04, 2008

terça-feira, abril 01, 2008

A andorinha do Mugabe 3


1- Escrevi aqui e aqui sobre o Mugabe. Continuo pensando na andorinha do Mugabe, e naqueles que interpretaram a minha opinião como uma diabilização ao Mugabe. Hoje somos obrigados a assistir o que todos queriam ver: a forma precipitada para “inventar” uma formula de pensar numa África integrada sem a fragmentar. Assim como aqueles que adoram a andorinha e sem amar a chuva. A meteorologia dos sentidos, penso eu.

2- A meteorologia dos sentidos parece conduzir-nos para um abismo. Transformou algumas intenções de exercício crítico numa escolha entre a diabolização do Mugabe e o recurso ao nacionalismo. As escolhas representam aquilo que menos sabemos fazer neste continente: criar aquilo que Karl W. Deutsch chamou de security community. Este conceito foi aquele que inspirou o acordo de Incomati, o acordo de não agressão assinado entre Samora Machel e o regime do apartheid. Trocar a baioneta pelo diálogo político, e não a troca de baionetas de uma guerrilha em maçãs de um farmeiro bóer.

3- A história repete-se. Não no Zimbabwe, mas no dia-a-dia dos africanos, porque este continente produziu tanto líder que representa(va) o diabo revestido num discurso nacionalista, desde o Bokassa ate ao Idi Amin. O que intriga neste momento é perceber como Mugabe pretende salvar o Zimbabwe, e para isso não precisamos do diabo ou de um nacionalismo que assenta em apelos emocionais, mas de um líder inteligente, pragmático, que possa promover o diálogo entre os elementos radicais de uma oposição farta do regime de mugabe e os elementos mais racionais dentro da zanu-pf.

3 - Para um continente que esta habituado a revoluções ao estilo golpe de estado, não terá chegado a altura de assistirmos a uma nova perestroika no Zimbabwe? Porque só com uma perestroika pode-se garantir que o exercito no Zimbabwe (onde estão os mais radicais elementos da zanu-pf) não tome o poder. Na experiencia da repercursão que a perestroika de Mikhail Gorbachev teve nos paises vizinhos e no bloco sovietico, podemos vir a assistir tambem num futuro muito proximo o impacto da perestroika zimbabweana em alguns paises vizinhos na região.

4 - Agora caros bloguistas imaginem que neste momento a vossa situação social e económica seja esta: tens 84 anos, casada/o com um(a) mulher/Homem 30 ou 40 anos mais jovem do que tu, tens dois filhos menores, governas um pais em crise económica, os teus amigos vem bater a porta para exigir favores, a única pessoa que tem a maior possibilidade de tomar o teu poder não reconhece os teus compromissos com amigos e tua família, os teus vizinhos estão a espera que a morte te visite para distribuírem a tua herança entre eles, e o mundo pensa que estas velho demais enquanto a tua família quer-te poderoso e vigoroso por muito mais tempo, mas a tua inteligência diz que não podes planear as coisas da tua vida privada e publica, a longo prazo, porque não poderás ter vida para ver o resultado.

Usando a meteorologia de sentidos, como poderas resolver este maka da tua vida?