“em quantas partes se vive um grito
Em quantos corações se parte uma terra
Em quantos olhos se come o sol
E em quantos pães se mata um sonho?”1.
Parece que a nossa vida de homens pacíficos mudou. Não sei quem foi que disse que nossa indignação para com a injustiça, a incerteza, a incompreensão, o obvio, o medo, a mudança, o crescimento, a pobreza, a riqueza, a tirania, a democracia, o beijo, o linchamento, nunca existiu. E quem tem a memória mais lúcida, vai explicar-nos sobre tempos pacíficos e menos violentos da nossa história, onde o realismo de um passado menos documentado e violento pode casamentar com nossas paixões inquestionáveis para com a paz e a moda de santos apertadores de cinto. O mundo mudou, e como obvio mudou a nossa percepção de homens fazedores de história.
Quem não se da conta disso, esta condenado no drama de um mundo real que não permite estar perto daquilo que pode confiar: o governo, a família, o estado e suas instituições. O estado está mais para uma instituição telenovelada, ele institucionaliza-se em personagens coreografadas num mundo de apelos a emoção e afecto que não encontramos no sofá ou na esteira da nossa casa. Por vezes reforça o realismo com encenações de apelo ao louvor, a celebração de conquistas, como se a sua existência fosse suficientemente inquestionável, afinal ser cidadão é universal, ser pobre também. A desigualdade é isso, legitima a existência do estado, onde o governo existe como aquele que esta para contar uma mesma história, segundo duas perspectiva separadas: nós e o povo.
Não é pessimismo. Não há lugar para isso. Porque ser pessimista num pais onde todos têm respostas? Fazer sugestões pode ser fatal, morres com uma bala de borracha requintada de chumbo. A resposta já a encontras: devolver a indignação, ate ao último minuto, para aqueles que tem esse direito, de recolher nossas indignações e estuda-las como o geólogo que na pedra não se apaixona, só no murro que não se humaniza. De que adianta procurar respostas num pais que não permite sugestões?
Mas a resposta encontrada não satisfaz. Afinal qual das duas perspectivas da mesma historia permite devolver a indignação onde ela sempre pertenceu? A indignação sempre pertenceu aos homens, o mundanismo retirou-nos isso, porque a sugestão de que todos podemos indignar-nos pareceu-lhes caricata. As manifestações resultam dessa indignação, com a nossa postura de negar sugestões “Em quantas partes?”
Sem comentários:
Enviar um comentário