quarta-feira, março 26, 2008

la famba bicha 30

 Finalmente aconteceu. A política tem seu preço, o paiol também. O ministro da defesa foi exonerado, aqui termina a carreira política de um homem e abre-se um novo precedente na nossa história, para detentores de cargos publicos e politicos. Pena tê-lo feito tarde, porque a esta altura a honra e o bom nome do antigo ministro foi por agua-abaixo, deixou passar uma oportunidade única para salvar o que lhe restava de prestigio, na sua longa carreira militar e politica. Na altura logo depois das operações de socorro as populações vitimas da explosão do paiol devia ter-se demitido.

Mas fica aqui patente um caso que vai alimentar muitas páginas, quando se escrever a história contemporânea de Moçambique. Só que este ex-ministro claramente ficou preso no cargo porque não queria sair sozinho. Entre a responsabilidade política e a capacidade de gestao tecnico-militar do exército, há muita gente com culpa no cartório pela explosão do paiol, desde as altas chefias militares no comando do exército ate as chefias políticas no ministério da defesa.

As altas chefias militares saíram semana passada, em grande estilo, afinal estavam a cumprir um mandato de paz e reconciliação, com a mancha do paiol que ceifou vidas, disseram-nos que saiem com a missao cumprida. Só quem esteve longe dos acontecimentos não viu como o exército reagiu mal na gestão dos acontecimentos pos-explosao do paiol e a posterior acção de destruição de material bélico absoleto em Moamba.
Mas fica aqui uma grande lição aos novos detentores de cargos publicos e politicos, tudo tem seu preço, quer no dumba-nengue ou no supermercado.

foto:EPA

quinta-feira, março 20, 2008

os habitantes da cidade 9


A poesia sempre foi uma amante de revolucionários. Desde os mais novos ate aos mais velhos. Quem não ama a poesia, nunca poderá amar a solidão e a beleza da coisas, por exemplo o lugar das arvores e o intimo de uma anca. A revolução serve a isso, transformar os amores velhos em novos. Dizem que o maior sacrifício no mundo é escrever poesia, aquela boa poesia, para homens desarmados e desprotegidos pela ordem natural das coisas.

O meu amigo poeta e investigador Chagas Levene publicou “tatuagens de estrelas”. Com Chagas aprendi sobre as feições da leitura, o prazer de uma conversa intelectualmente saudável, a viagem pelos livros na boleia de uma loucura que chocalhava a porção restante de um livro ainda por escrever, encabulado numa taça de vinho. Veja aqui alguns textos e aqui algumas crónicas do seu trabalho de campo. E o tempo voltara, tem a mania da poesia

terça-feira, março 18, 2008

comentarios e virus

Caros bloguistas e  leitores, tem surgido nestas ultimas postagens deste blog comentarios em ingles. por  favor nao click nesses comentarios, ignora-os porque sao virus que pode danificar o vosso computador. obrigado chapa100

terça-feira, março 11, 2008

la famba bicha 29 - o crime II

O link em referencia no primeiro paragrafo deste post mostra os vários desafios institucionais que este ministério enfrenta, sem contar com varios outros que não cabem num post deste blogue. Mas importa chamar atenção para alguns pontos que gostaria, nesta pequena opiniao, de adicionar. Parece que a questão da visibilidade da policia é um ponto fulcral para devolver o sentimento de segurança para os citadinos de Maputo. Esta visibilidade implica maior patrulhamento em zonas ou locais onde é mais provável a prática de crimes, pegando nos estudos preliminares sobre os linchamentos e outros relatorios sobre práticas criminais pode-se mapear essas zonas.

Imagino que, para algumas pessoas, maior patrulhamento implica aumentar o efectivo e meios circulantes para a polícia. Não estão enganados. Mas neste momento o desafio operacional em relação ao aumento da visibilidade da polícia, com o patrulhamento e em particular nos bairros perifericos, implica ter a coragem para reformular o programa de policiamento comunitário vulgo “polícia comunitária”. Sobre os pecados da polícia comunitária escrevi o ano passado no mocambiqueonline (ver os meus elos). Mas vou mostar, com um pequeno exemplo, alguns atentados a razão que a priori mostram os pecados deste projecto e não vou tocar nos argumentos que justificam a sua implementação, tão problematicos como o argumento que acompanhou aquela iniciativa de distribuir apitos aos moradores no bairro de Chamanculo para estancar assaltos as residencias.
Vamos olhar para o problema da criminalidade em alguns bairros periféricos, muitos deles retractados em várias orgãos de informação e estudos sobre a criminalidade em Maputo. Alguns entrevistados fazem referência para a exploração de casas de pastos vulgo barracas ate as altas horas da noites, onde regista-se a prática de prostituição, o consumo de estupefacientes e excessivo consumo de álcool, particularmente entre adolescentes e jovens. Para os entrevistados este tem sido o incentivo para a ocorrência dos chamados crime de diversão, que muitas vezes resultam em homicídios e pertubação da ordem publica. A experiencia mostra que os jovens destacados para policiamento comunitário, não tem competência para intervir ou exercer actividade inspectiva e muita menos competência para fiscalizar a actividade administrativa de alguns locais de diversão. Isto é, impedir que a barraca senta-baixo funcione ate altas horas da noite ou exigir a proibição de venda de álcool e tabaco a menores de 18 anos.
Com este exercício pretendo mostrar que a questão de segurança pública é complexa e requer um desafio bem mais ambicioso em termos de reformas. Com o exemplo acima das barracas quis mostrar que a visibilidade da policia só é eficiente se acompanhada de iniciativas integradas tais como, 1) propor legislacão ou regulamentos sobre a exploração dos espaços de diversão e ter disponível uma actividade inspectiva conjunta entre a PRM e a policia municipal no âmbito das suas competências territoriais e de actividades previstas na lei para fiscalizar a actividade administrativa de alguns locais de diversão, 2) Juntar a estas, outras entidades ligadas as autarquias ou governos locais que tenham competências específicas para velar pela ordem pública em matéria de aplicar coimas, prevenção e apoio a pessoas carentes ou envolvidas em actividades de risco.
Agora voltamos a estaca zero, esforço ou preocupação? sim estamos perante um problema sério. culpar so a policia não ajuda a ninguem. A policia pode estar a ser vitima dos muitos atentados a razão que pululam na nossa esfera publica. Com tempo, estamos a perceber que a policia é o elo mais fraco, de um conjunto de coisas ausentes na discussao da coisa publica.

segunda-feira, março 10, 2008

la famba bicha 28 - o crime I

Escrevi aqui o ano passado sobre o que pensava sobre a situação do crime em Moçambique principalmente no grande Maputo. O pensamento na altura, estava mais virado para a responsabilidade política do ministério de tutela em relação a politicas, estratégias, projectos e planos para conter a onda de criminalidade que dava a impressão de ter aumentado numa proporção assustadora. Continuo pensando que faltam ainda respostas políticas, programáticas visíveis para poder avaliar o esforço dos quadros superiores em estudar e prevenir o crime.

Estudar a natureza e as manifestações do crime não é tarefa fácil, existe ciência para isso. A ciência que estuda o crime não visa produzir respostas para purificar ou proteger por completo a sociedade de delinquentes. Mas neste post não pretendo falar da ciência do crime, não tenho competência para isso apesar de na unidade onde trabalho termos uma unidade de pesquisa aplicada, onde varias vezes colaboramos com varias instituições ligadas ao estudo crime e delinquência juvenil.

Li no jornal notícia que a polícia destacou uma unidade composta por elementos vindos de varias unidades ou instituições do ministério do interior, para estudar os linchamentos, na região centro do pais. De forma geral podíamos dizer que estamos perante um indicador que mostra a preocupação política e institucional para com este tipo de crime. Será que isso basta? Qual seria a magica formula para perceber quando é que este ministério esta preocupado e quando é que esta se esforçando?

Quando o crime atinge os níveis insustentáveis e intoleráveis em termos de níveis de aceitação e negociação da percepção de estar seguro e protegido na sociedade, a diferença entre o esforço e a preocupação trás pouco ou nada de novo, pelo menos numa sociedade onde o impacto económico e social do pequeno crime tem efeito contaminador nas relações de poder e reprodução social. Estamos numa situação em que o criminoso não tem rosto, é tão anónimo como quem tem o mandato e o dever de o combater.

O professor carlos serra já publicou bastante e não o suficiente sobre os linchamentos. E muitos outros estudiosos e curiosos, incluindo as vitimas do crime. Aqui não podem acusar as forcas vivas da sociedade de estarem de braços cruzados, alguns de forma apressada e outros com uma atitude mais cuidadosa vão mostrando que podem contribuir para uma maior visibilidade do crime e dos seus contornos sociais.

domingo, março 09, 2008

O chapa100 fica varias vezes silencioso. Desta vez foi por uma manifestação de dor e luto. Só não sei se a manifestação de luto deve ser pública, mas a blogsfera é uma comunidade de familia, amigos, vizinhos, patriotas, desterrados, desconhecidos e virtuais cidadãos. Um bloguista, amigo de uma infancia presente, um jornalista cultural, agora feito um emigrante, como eu e muitos, que nas noites de insonia conversamos sobre o nosso pais tão distante na saudade e tão presente na memoria. O meu luto, é pelo ouri, pela perda do pai.

segunda-feira, março 03, 2008

the social fabric e uma andorinha 3



Parece ser comum hoje comentar que o chapa 100 governa nossas vidas. E não estamos enganados, segundo a percepção popular. Por muito tempo alguns actores políticos da praça, andaram a criar governos paralelos e governos sombra. Fizeram-nos crer que tinham mandato político para tal ousadia. Alguns justificaram que era um experiencia comum no mundo, em democracias mais adultas. Não estavam enganados.

Mas esqueceram-se de perguntar se tinham mandado político-social, entendido como popular, para tamanha ousadia. O chapa 100 mostrou que tem um capital político-social de fazer tremer qualquer partido no governo ou na oposição. Fazer estremecer um pais não é uma questão de ousadia, é de muita força social que supera o capital político de muitos. O sociólogo Carlos Serra chamou este capital político-social do chapa 100 de um sismo social.

Não pretendo aqui dar um cunho político ao chapa 100, sob pena de criar governos paralelos nas estradas moçambicanas. Mas interessa-me, este paralelismo que o chapa 100 tem com o nosso ambiente político e seus actores. E não são só os partidos políticos com seus governos paralelos e sombra que são desafiados pelo capital político-social do chapa 100. E a media? Esta declarou-se o quarto poder. O mandato para estabelecer esse quarto poder foi buscar na experiencia do mundo, em democracias mais adultas.

Mas em democracia menos adulta, o poder assenta em outros actores. Menos experientes mas ousados, bastante frágeis em relação a concepção que temos de um estado funcional, mas aparatosos no controle das relações sociais, políticas e económicas do cidadão no dia-a-dia. O poder do chapa 100 assenta na miniatura das relacoes formais do quotidiano quando existe uma percepcao generalizada da ineficiencia das instituicoes formais, o que particularmente cria incentivo para alguns actores especializados em relações sociais, económicas e politicas informais. E os ultimos desenvolvimentos mostram que existem vários governos paralelos e com poderes que disputam o controle pela dimensão normativa do exercicio de poder no estado, isto é, na busca de legitimidade para o controle das relações sociais, economicas e politicas na nossa sociedade. Mas importa aqui questionar porque que alguns segmentos da nossa sociedade não se querem transformar num poder que aposta no incentivo ao crescimento/fortalecimento de instituições formais e estruturais na sociedade? E será que o nosso sistema democratico menos adulto permite isso?

domingo, março 02, 2008

amor de zinco 8

cá fora
o vento sopra
a lua crepita
e o corpo
engrandece

leva
minha razão
para
outra margem

mas
o vento
não só
sopra
a leste

a lua
não so crepita
e o meu
corpo
não só engrandece

tudo
muda

adquire outra face

mas dentro
tudo
permanece
bombeia
palpita
e ama
em plena
constante.



in jorge matine - "abutres do amor", Ed.Moura Pinto, Porto, 1999