domingo, junho 29, 2008

os habitantes da cidade 8

Nos últimos dias tenho dedicado o meu tempo para entender algumas coisas. Uma destas coisas que com muito custo, tento perceber é a nossa cultura política. Um conceito difícil, este de cultura política, porque dele aprendemos que existe um espaço onde as nossas ações são moldadas por um conjunto de formulas e contextos.

Mas o que faz a nossa cultura política neste lugar de onde escrevo? Não sei. Porque este lugar não existe na verdade, é um lugar de uma inverdade mal gerida. Torta, por exemplo. Mas importa aqui dizer que escrevo de um lugar que pode na minha imaginação assumir a particularidade de um “lugarelho”, às vezes de uma capital com elevada importância que quando adicionada a ingredientes de uma cultura política pode transformar nossas vidas. Os ingredientes podiam ser o voto, a eleição, a responsabilidade, a governabilidade, a ciência, etc.

Isto vem a propósito do nosso ministério de coordenação e ação social, primeiro foram os mendigos, idosos de Maputo em particular, que promoveram pronunciamentos de alguns dirigentes deste ministério (com o rombo no INSS, ai esta um caso interessante sobre os contornos da proteção social). Depois veio o famoso caso do camião interceptado com as “flores que nunca murcham” que se juntou a telenovela Diana, que como costume atingiu o seu auge com aprovações, na formula 4x4, de uma lei de proteção de menores na assembléia da republica. Finalmente, porque somos um pais de fraca auto-estima, vieram os turcos com as nossas crianças com suspeita de pedofilia e rapto de menores.

Um pais pobre não se pode dar o luxo de ter ministérios que funcionam desta maneira, senão estamos mal. Um ministério com representação distrital e provincial não se pode dar ao luxo de pronunciar-se e agir desta maneira, afinal onde esta a responsabilidade política para com a gestão de um pais e na proteção dos mais vulneráveis contra a ação de outrem? Senão vejamos, a accao social e proteção social respondem a um principio de precariedade e de risco que pode afectar a qualquer um, independemente do endereço físico (por exemplo, o caso das crianças vitima dos turcos). A pergunta seria o que o estado faz para lidar com a precariedade e o risco que as nossas crianças correm num contexto como o nosso.

Pronunciar que tudo isto resulta da pobreza é um atentado a razão.

4 comentários:

umBhalane disse...

"Pronunciar que tudo isto resulta da pobreza é um atentado a razão".

Os meus parabéns pela matéria, que já abordei em tempos com o Custódio Duma, parcialmente.

De facto, e a avaliar pelas muitas notícias que vão aparecendo, a sociedade Moçambicana está muito vulneralizada.

Existe uma inconsequência flagrante, perante delitos praticados a vários niveis, e relatados na imprensa.

Tanta apatia é constrangedora.

A sociedade civil é incipiente, não funcionando.
Não há pressão, e os assuntos caem no esquecimento, com uma "normalidade" arrepiante.

Mas, o Jorge terminou de forma sintetica, e muito assertiva.

"Pronunciar que tudo isto resulta da pobreza é um atentado a razão".

Parabéns, Jorge.

Elísio Macamo disse...

jorge, não tenho tido muito tempo para ler os blogues. mas este tipo de textos é importante. é preciso, naturalmente, alargar à reflexão para o que, da parte da sociedade, seria possível para que estas coisas não acontecessem. neste sentido, penso que umbhalane tem razão em destacar a sociedade civil.
espero que te estejas a dar bem com xai-xai. abraços!

chapa100 disse...

caro umbhalane! a condicao de pobre dita muita coisa, mas nao pode esconder uma atitude responsavel daqueles que tem obrigacao de proteger os mais fracos, nao e coisa de messias, mas de uma politica activa e de cidadania.

chapa100 disse...

caro elisio! primeiro deixa-me desculpar-me fugi de praga sem fazer o salto prometido. acredito que na tua proxima visita a Xai XAi pago a multa com IVA. em relacao a este post, os pobres do nosso pais pertencem a um pais cheio de ambiguidades, naturais das relacoes de sobrevivencia no mundo actual. o que nego tem haver com o sentido que damos a precaridade e a exclusao social nas nossas politicas publicas. a reacao deste ministerio serve pouco mostrar o novo sentido de um estado social:a da derrocada de muitas ilusoes de mocambique como pais. o real do pais exige outra forma de estar e analise dos fenomenos sociais que resultam da vulnerabilidade dos mocambicanos.